Os dois grupos interessados na cracolândia pretendem implantar empreendimentos que combinem áreas residenciais de comércio e de serviços.
O consultor Celso Sampaio Amaral Neto, 47, da Amaral Davila Engenharia de Avaliações, considera que, somente com comércio e serviços, a cracolândia continuará a ser ocupada por marginais à noite. "Do jeito que está aquela região, compensa derrubar tudo e construir de novo. Mas não pode ser só área comercial, porque, se as ruas ficaram vazias à noite, o problema vai recomeçar. É preciso que haja conjuntos habitacionais."
Segundo Amaral Neto, a cracolândia é atrativa para todos os tipos de empreendimento, por contar com uma estrutura de comunicações e de transportes consolidada, além da localização central. "Você já tem inclusive fibra óptica lá", diz.
O arquiteto e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, já elaborou um projeto contratado pelo grupo liderado pela Company S.A. -que intercala residências para todas as classes com atividades comerciais.
O presidente da Company, Walter Francisco Lafemina, adiantou alguns detalhes do projeto. Será mantida parte dos prédios e construídos novos, para todas as classes sociais, além de supermercado, restaurantes, cinema e lojas. Será, diz ele, uma micro cidade.
"A idéia é termos pessoas circulando à noite, nos fins de semana. E também integrar as pessoas. Não vamos concentrar habitações populares em um só local, isso desvalorizaria o entorno. A concepção é essa", diz.
Larga escala
O diretor de incorporações da Odebrecht, Paulo Melo, também afirma que é necessário intercalar áreas residenciais e comerciais, para dar vida à região todos os dias e horários.
Em razão disse, segundo ele, um investimento imobiliário só será rentável caso seja realizado de uma só vez em uma grande área, para dar garantias de que haja uma sincronia entre a construção de residências e prédios comerciais.
"Queremos realizar um empreendimento em larga escala. A média prazo, podemos requalificar [recuperar] todo entorno", afirma Melo.
Nova Luz já tem projeto de ampliação
A prefeitura já tem uma proposta pronta para a ampliação da área da cracolândia, na qual empresas recebem incentivos fiscais para se instalar.
A nova área, de seis quadras, inclui a avenida Prestes Maia, as ruas Brigadeiro Tobias e Washington Luís e a praça do Correio.
A ampliação foi incluída na proposta de região do Plano Diretor da Subprefeitura da Sé, disponível na internet.
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) confirmou nesta semana, sem detalhar, que pretende ampliar a área de isenções fiscais do projeto Nova Luz.
Intenção
O secretário das Subprefeituras e subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, reforçou a intenção -disse, porém, não haver prazo.
A ampliação foi decidida porque a prefeitura considera que a venda da área atual para um dos grupos interessados permitirá o início da revitalização de uma região vizinha.
A proposta de revisão do Plano Diretor regional apresenta outra mudança importante para a viabilização do projeto: uma área reservada no próprio Plano Diretor para a construção de moradia para famílias de classes média e baixa será transferida para outro local.
Se essa transferência não for aprovada, praticamente metade da área da cracolândia não poderá ser usada para imóveis comerciais. E isso não interessa aos grupos que disputam a área.
Brás quer desenvolver projeto semelhante ao da cracolândia
A Subprefeitura da Mooca quer criar no Brás um projeto de atração de investimentos semelhante ao da cracolândia.
O primeiro passo para isso é mudar o zoneamento da região, que reserva praticamente toda a zona cerealista para a construção de moradias para famílias de renda de até seis salários mínimos. A mudança deve ser incluída no Plano Diretor.
O subprefeito Eduardo Odloak afirmou que em 64 das 120 ruas do Brás, incluindo as tradicionais São Caetano e João Teodoro, todos os lotes com mais de 500 m2 têm de reservar 80% de sua área para habitações populares.
Fonte: Folha de São Paulo (São Paulo), 19 de maio de 2007