Mesmo sem ser alérgico, o médico Fernando Sion não pára o carro em áreas fechadas de shoppings. Ele sempre procura um lugar aberto para estacionar e tentar escapar da poluição e da sensação de abafamento.
O argumento do alergista é fortalecido por testes feitos pela Comissão de Meio Ambiente da assembléia, em parceria com laboratórios (Analytical Solutions e Controbio), a empresa JCTM e o Departamento de Meteorologia da UFRJ.
A amostragem revela sinais de desconforto térmico e de poluição em estacionamentos fechados de shoppings, lugares que passaram a atrair público, sobretudo com o crescimento da violência.
Em três das seis garagens avaliadas, na sexta e no sábado anteriores ao Dia das Mães, foram encontrados valores de monóxido de carbono (CO) superiores ao máximo tolerado pela norma NR 15, do Ministério do Trabalho, que é 39 ppm (partículas por milhão). Uma estação meteorológica automática constatou ainda, em 14 e 15 de maio, que a ventilação era nula nos seis estacionamentos.
Deputado quer restringir limite de tolerância de CO
Diante dos resultados da pesquisa, o presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado André do PV, decidiu apresentar indicação legislativa ao Executivo propondo a apresentação de projeto de lei que restrinja para 25 ppm o limite máximo de tolerância de CO em espaços fechados.
O parâmetro sugerido é o fixado por norma americana (ACGIH). "Trata-se de um caso de saúde pública", diz André, que também convocou audiência pública para 4 de junho, às 14h.
Na sexta-feira anterior ao Dia das Mães, o Analytical Solutions mediu 245 ppm na garagem inferior do Rio Plaza e 104 ppm no G2 do Rio Sul, ambos em Botafogo. No sábado seguinte, no Rio Plaza, no Rio Sul e no G1 do Leblon foi registrado CO alto.
Nos testes feitos dias 14 e 15 de maio, o JCMT verificou que a ventilação era zero no Plaza, no Rio Sul, no Leblon, no terceiro piso do Iguatemi (Tijuca), e nos subsolos do New York City (Barra) e do Shopping da Gávea."Essa primeira avaliação indica que a ventilação dessas garagens é deficiente", diz Luiz Maia, professor do Departamento de Meteorologia da EFRJ.
As temperaturas medidas nas garagens eram um pouco superiores às das áreas externas. Mas, explica Maia, a circulação de ar inadequada aumenta a concentração de poluentes e eleva a sensação de calor.
A arquitetura, acrescenta, tem relação ainda com o desconforto. "A sensação térmica é maior em garagens com pé direito (altura do chão ao teto) baixo, excesso de curvas e quebra-molas, que obrigam o motorista a parar e a acelerar.
Shoppings garantem que controlam qualidade do ar
Para o engenheiro Leopoldo Eurico Gonçalves Bastos, é possível se ter uma garagem bem ventilada apenas por meio natural, desde que sejam construídas aberturas em locais que garantam a entrada e a saída de ar.
Há também, diz ele, soluções usando só ventilação e exaustão mecânicas, e combinando recursos naturais e aparelhos. "A área, o número de vagas e a rotatividade prevista são alguns fatores que têm de ser levados em consideração ao se elaborar um projeto", afirma Leopoldo, professor da UERJ, e um dos coordenadores do Grupo Projeto, Arquitetura e Sustentabilidade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ.
Os shoppings pesquisados informam que já vêm adotando medidas para garantir a qualidade do ar das garagens. O Rio Plaza conta com janelas e exaustores. O Rio Sul promete concluir, até o fim do ano, um projeto de revitalização que inclui melhorias nas garagens.
O Shopping Leblon possui sensores para controlar o CO e acionar exaustores sempre que necessário. Sistema semelhante tem o New York City no subsolo. O Shopping Gávea diz que as janelas do subsolo localizam-se em pontos estratégicos, mas está disposto a fazer as mudanças que sejam necessárias. O Iguatemi tem exaustores no subsolo, e janelas de ventilação do terceiro ao quinto piso.
Fonte: O Globo (Rio de Janeiro), 20 de maio de 2007