Estacionar no Centro de São Paulo não é fácil. E se torna uma missão muito mais complicada quando se está de moto, já que a maioria dos estacionamentos não aceita guardar veículos de duas rodas.
Pedro Júlio, encarregado do Personal Park, na rua Florêncio de Abreu, explica que o fato de recusar motos vem de uma imposição da seguradora. "Para baratear o valor da apólice, somos obrigados a não aceitar motos, apenas veículos de passeio e utilitários."
Genival Xavier dos Santos, gerente do Mega Park estacionamento na mesma região, garante que em seus estabelecimentos é permitido estacionar motocicletas. "Porém, para valer a pena, cobramos o mesmo valor dos carros pequenos: R$ 5 pelas primeiras duas horas e R$ 3 para as demais".
Como solução para poucas e caras opções dos motociclistas, o guardador Humberto Almeida Procópio, o Betinho, resolveu ficar em pleno Viaduto Boa Vista, onde há um bolsão, para fazer segurança de motos. "Além de olhá-las eu as guardo e as retiro das vagas. Isso evita que alguma caia e risque a que está parada ao lado."
De acordo com ele nada é cobrado por esse serviço. "Como trabalho na rua, não posso cobrar, tudo é na base da caixinha." segundo Betinho, normalmente, os motociclistas pagam R$ 0,50. "Alguns chegam a me dar R$10. por mês tiro livre cerca de r$ 1.500."
Ele conta que todos os dias, em média 150 motos estacionam ali. "O bom é que trabalho só durante a semana. Aproveito os sábados e os domingos para namorar", brinca o segurança. "Aos 13 anos, meu pai, que era motoboy, me apresentou para as pessoas que vinham aqui para o Centrão. Comecei a trabalhar nisso, mesmo lugar, há 15 anos. muitos param aqui mesmo tendo de ir a outro lado da região."
De filho para pai
Meses depois que Procópio começou a trabalhar nesse ramo, Jorge Luiz, seu pai, resolveu largar a vida de motoboy para se dedicar à mesma função do filho. Ele fica a poucos metros do "ponto" de Procópio. "Eu e o meu ex-patrão brigávamos muito. Decidi vir para cá porque, por mais que não pareça, os motoboys são humildes. Sabem retribuir na mesma altura."
Segundo Luiz, quando seu ponto era do outro lado da rua chegava a atender 250 motocicletas por dia. "Agora tenho no máximo 160 vagas."
Fonte: Jornal da Tarde (São Paulo), 19 de maio de 2007