Logo às 7 da manhã, de segunda a sexta, uma barulheira invade o apartamento da agente de turismo Cintia Ferguson de Lima, na altura do número 1100 da Rua da Consolação. São os caminhões que começam a transitar pela via e só param depois da meia-noite. "A vizinha do lado não agüentou o stress e se mudou", conta ela.
A partir de novembro, o inferno dessa rotina tem boas chances de mudar. Ou, pelo menos, de dar um alívio. No último dia 10, o prefeito Gilberto Kassab assinou o decreto que dobra a área de restrição à circulação de veículos de carga na cidade.
A Consolação está dentro da zona de 24,5 quilômetros quadrados no centro expandido da cidade pela qual os caminhões não poderão mais rodar entre 10 e 20 horas. Hoje, eles são proibidos em 11,4 quilômetros quadrados, divididos em três regiões (veja mapa).
A mudança veio para minimizar os transtornos causados pelos grandalhões e para facilitar a fiscalização. "Unificamos a área porque é muito difícil definir os limites e punir os infratores", explica o secretário municipal de Transportes, Frederico Bussinger.
No ano passado, 29.000 veículos pesados tomaram multa. "A regulamentação é bem-vinda, mas o problema é que ela deixou de fora outras vias de grande circulação, como a Aricanduva", diz a urbanista Silvana Maria Zioni, especialista em transporte de carga urbana.
Segundo a prefeitura, o novo mapa prioriza ruas com um grande número de estabelecimentos, que dependem de entregas para funcionar. Caminhões com até 6,3 metros de comprimento estão liberados - antes do novo decreto só podiam circular os que tinham até 5,5 metros.
Ocuparão mais espaço nas ruas, é verdade, mas também podem transportar em média 2,5 vezes mais carga. "Um único caminhão de 6,3 metros substitui até três menores", afirma Francisco Pelucio, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga (Setcesp).
Com a medida em vigor, Pelucio calcula que deixariam as ruas cerca de 6.000 dos 10.000 veículos pequenos que atualmente rodam na área restrita. Além de respeitarem o tamanho máximo permitido, os caminhões que quiserem entrar no quadrilátero protegido terão de emitir menos poluentes.
Eles têm até maio de 2008 para se adequar às normas ambientais do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve).
Cerca de 48% da frota paulistana tem acima de doze anos de idade e polui muito mais que os modelos novos. A prefeitura pretende cadastrar todos os veículos autorizados a circular na área de restrição.
Sessenta novos radares que fazem a leitura automática de placas, os chamados LAPs, serão implantados nos limites da nova zona para flagrar os que estiverem proibidos. O sistema vai custar cerca de 10 milhões de reais por ano.
É um dinheiro bem empregado, em vista dos malefícios que os caminhões infratores causam ao trânsito da capital.
Quem for pego desrespeitando a lei vai pagar multa de 85,12 reais, além de levar quatro pontos na carteira de habilitação. "Considero o decreto uma espécie de constituição do transporte de carga em São Paulo", diz o secretário Bussinger. "É por isso que investiremos em medidas que garantam seu cumprimento."
Carga pesada
* Circulam diariamente 230000 caminhões pela cidade. Destes, 20000 estão só de passagem;
* 48% da frota paulistana tem mais de 12 anos;
* A cada três horas, um caminhão quebra e pára o trânsito;
* O bloqueio de uma única faixa numa avenida de tráfego rápido por apenas quinze minutos gera, em média, 3 quilômetros de fila.
Como é a lei hoje?
Os caminhões não podem circular em três zonas de restrição, que somam 11,4 quilômetros quadrados
Como vai ficar?
A partir de novembro, a restrição aumentará para 24,5 quilômetros quadrados. Veículos com mais de 6,3 metros de comprimento não poderão rodar na área entre 10 e 20 horas nos dias úteis e entre 10 e 14 horas aos sábados.
Há exceções?
Caminhões com material de construção, água e mudanças, entre outros, podem pedir uma autorização especial da prefeitura
Como será a fiscalização?
Sessenta radares com leitura automática de placas (LAP) multarão caminhões que não estiverem cadastrados
O que o paulistano pode fazer se notar algum caminhão circulando dentro da área de restrição?
Ligar para o 156 e denunciá-lo à prefeitura.
Fonte: Revista Veja São Paulo (São Paulo), 23 de maio de 2007