Como mostram os áudios e atesta a polícia, a situação em São Paulo é crítica. As conversas evidenciam pessoas buscando ajuda na PM para conter desavenças sérias nas ruas e avenidas do município. Em uma das gravações, por exemplo, o autor da ligação afirma testemunhar um rapaz abandonar seu carro, com duas crianças dentro, para destruir o veículo de outro com um pedaço de madeira.
Na avaliação do capitão Cleodato Moisés do Nascimento, porta-voz do Comando de Policiamento da Capital, os congestionamentos e a vida estressante da metrópole turbinam as chances de conflitos. "Muitas vezes, a pessoa já sai de casa estressada. Briga com o marido, discute no trabalho, e acaba se envolvendo em confusão", diz.
Os atendentes do 190 são treinados para tentar acalmar os ânimos dos condutores. Inicialmente, são orientados a tentar pacificar os envolvidos na briga. Se percebem que a situação está fugindo do controle ou que a confusão já teve início, mandam imediatamente um carro de polícia ao local, o que acontece em 30% das chamadas por desentendimento.
Nem a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) ou a própria PM possuem dados concretos sobre as brigas de trânsito, como, por exemplo, o volume de Boletins de Ocorrência (B.O.s) elaborados especificamente por esse motivo. "Mesmo se tivéssemos todos os dados, eles não seriam confiáveis. Tem muita gente que briga e depois vai embora, não segue até a delegacia. Muitas vezes, acabam inclusive é indo direto para o hospital."
Efeito bola de neve
Há 55 anos estudando transporte, o engenheiro Adriano Murgel Branco afirma que o excesso de veículos, e os consequentes congestionamentos, fazem com que os motoristas de São Paulo se tornem mais agressivos.
Psicóloga do trânsito da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Raquel Almqvist alerta ainda para o efeito cumulativo do estresse entre os motoristas. "Uma fila de banco, mesmo demorada, uma hora acaba. Mas no trânsito o desgaste é diário, todo dia. Vai acumulando e acumulando. Se ele (o motorista) não tiver um tempo para regredir nisso, para se acalmar ou relaxar, vira um descontrole", explica.
Segundo ela, dirigir gera nas pessoas um sentimento de proteção. "O veículo vira uma extensão do corpo. E a pessoa se sente poderosa. Além disso, existe a sensação de segurança dentro do carro, de estar rodeado por uma armadura de ferro. O motorista pensa que está acima de tudo."
Fonte: UOL Notícias, 10 de junho de 2011