Na realidade, o Senado não só aprovou o projeto que proíbe ao empregador aplicar o desconto em folha, mas manteve a opção pelo benefício a critério do trabalhador. Ou seja, para o empregado que gasta muito com transporte e ganha pouco, é uma enorme vantagem optar pelo vale-transporte. A decisão do Senado é mais um das medidas na área trabalhista que certamente irá contribuir para inflar o já conhecido ?custo Brasil?, que não é exatamente pequeno.
Por exemplo, em um salário de R$ 1.000,00, o gasto da empresa é de R$ 2.060,00, com todos os encargos trabalhistas. São 106% a mais do que efetivamente é pago como salário ao empregado. Uma conta simples poderia mostrar o efeito dessa nova medida, relativa ao vale-transporte, para o empresário: se o trabalhador usar apenas uma condução, em 22 dias úteis por mês, o gasto com transporte seria de R$ 132,00 mensais, tendo como base o valor da passagem de ônibus na cidade de São Paulo, que é de R$ 3,00.
Como a renda média dos cerca de 50 milhões de assalariados com carteira assinada no Brasil beira os R$ 2.500, o projeto de lei vai embutir um aumento médio de 5% na folha de pagamentos das empresas. Esse valor é basicamente um reajuste a mais além dos negociados e em dissídios coletivos. De uma forma ou de outra, é um imposto a mais para quem emprega e quer continuar empregando.
O desconto de 6% é menor do que esse valor para trabalhadores que ganham até R$ 2.167,00, um contingente enorme de pessoas. Em um cálculo hipotético, a cada 1.000 trabalhadores a empresa teria que arcar com um custo adicional de R$ 130 mil. Se considerarmos, em um cálculo conservador (pois esse número é maior), que 80% dos trabalhadores formais ganham até esse valor, o efeito de aumento de gastos com folha de pagamentos das empresas superaria os R$ 5 bilhões mensais, um incremento abusivo para uma economia que já é tão regulada e que encarece consecutivamente os custos de se empregar.
Esse projeto de lei desestimula aquilo que deveria ser sempre estimulado em uma sociedade: a negociação entre as partes e a geração de empregos.
Fonte: informativo Economix Express, publicação da Fecomercio-SP, 18 de outubro de 2013