José Barbosa Ruvira, que administra um prédio residencial na região da Consolação, conta que ali funcionava um flat. Da estrutura de serviços que existia até 2006, ficou o estacionamento.
Ele ressalta que, além da quantia que o condomínio recebe - de R$ 2.500 a R$ 3.500 por mês -, não tem encargos com funcionários. Esse valor equivale a cerca de 30% do faturamento da rede de estacionamento.
Sobre se já houve reclamação de moradores, ele diz que sim, quando, por exemplo, um condômino não simpatiza com algum manobrista. Se propõem acabar com o sistema, basta lhes mostrar as despesas do condomínio. "Aí mudam de ideia", diz.
Com o valor arrecadado, Barbosa diz que conseguiu pintar a garagem e fazer algumas reformas, como no gradil e na rampa de acesso do estacionamento.
A segurança é a questão mais delicada no modelo, que pode ser implementado desde que aprovado, em assembleia de condomínio, por três quartos dos moradores.
Aluguel de vaga gera renda e risco à segurança
A transformação da garagem do prédio em estacionamento privado deve ser feita com muita atenção, já que muda a rotina dos moradores. Para saber se o edifício se presta à modalidade, é preciso levar em conta a quantidade de torres e de apartamentos no condomínio, diz Dostoiéviscki Vieira, diretor da Pró-Síndico (associação de síndicos).
Segundo ele, quanto mais unidades no empreendimento, mais difícil fica a gestão de segurança.
Vieira diz que o perfil ideal são condomínios compactos, com vagas ou espaço livres que possam ser usados como estacionamento. Bairros com empresas ou prédios comerciais, com alta demanda por vagas, são a localização mais indicada. "Muitas famílias morando não dá certo."
Nos estacionamentos pequenos e médios, com faturamento de até R$ 35 mil por mês, é repassado um percentual de 10% a 30% do valor arrecadado (até cerca de R$ 8.500).
Júlio Herald, gerente de condomínio da administradora Auxiliadora Predial, ressalta que em eixos financeiros, como na região da avenida Paulista, a quantia pode passar de R$ 10 mil.
Nos empreendimentos menos disputados, o valor tende a ser menor. "Depende do tamanho, do fluxo de carros e do local, mas o comum é o repasse ser de R$ 800 a R$ 2.500 por mês. Já é uma pintura de um hall", diz Vieira.
Acesso
Quanto ao esquema de segurança, é importante haver a instalação de câmeras e um rígido controle de acesso do estacionamento à área comum do condomínio.
O advogado Carlos Amaral, que mora em Pinheiros, vê vulnerabilidade no sistema, mas aprova ter um manobrista à disposição.
"O nível de segurança diminui. Gente de fora pode entrar nas dependências do prédio. Há um andar exclusivo para os moradores, mas a saída dos carros à rua é a mesma para todos", diz.
O taxista José Aparecido Del Torto mora em um prédio no centro com acesso a um condomínio-garagem, que tem convênio com o comércio da região. Esse serviço rende de R$ 4.000 a R$ 5.000 por mês ao condomínio, montante que serve para reformas no estacionamento.
Del Torto afirma se sentir seguro, já que há porteiro e câmeras na entrada do condomínio pelo estacionamento. "Os assaltos que ocorreram aqui foram pela portaria, não pelo estacionamento."
Convenção precisa autorizar aluguel de vagas
Para alugar as vagas do estacionamento, é preciso autorização pela convenção de condomínio. A exigência está prevista na lei federal 12.607, do ano passado, que altera um dispositivo do Código Civil.
Com a mudança, os abrigos para veículos só podem ser alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio com "autorização expressa na convenção".
"É necessário aprovação por dois terços dos condôminos", diz Rubens Carmo Elias Filho, do escritório Nelm Advogados e presidente da Aabic (associação de administradoras).
Ele acrescenta que o estacionamento precisa de alvará de funcionamento da prefeitura.
De acordo com Marcos Caielli, diretor da Portal de Documentos, empresa que atua na área de autenticação de documentos, a convenção precisa assegurar aos moradores a prioridade na utilização das vagas.
"O que não pode acontecer é um morador chegar com seu carro e o manobrista avisá-lo de que o estacionamento está cheio."
Para Júlio Herald, da Auxiliadora Predial, é recomendável consultar um advogado, checar se funcionários têm registro, a idoneidade da empresa e se haverá seguro.
Fonte: Folha de S. Paulo, 20 de outubro de 2013