O estabelecimento de limite da vagas nas áreas que a Prefeitura Municipal de São Paulo pretende adensar, com uso misto, vai de encontro a tais objetivos, pois desestimularia a instalação de apartamentos voltados para uma demanda de alta renda, com metragem superior a 100 m2 de área livre e necessidade de três ou mais vagas para a sua frota domiciliar.
O afastamento dessa oferta que, em função das limitações de vagas, preferirá se instalar fora da Zona de Transformação, teria dois efeitos negativos: promoveria um "empobrecimento" da ocupação, afastando o interesse do comércio e de serviços voltados para a média alta e mesmo para a alta renda, se ocupado apenas por prédios voltados a uma população "sem carro" ou "com poucos carros". Não há ainda um volume significativo dessas categorias por opção, ou seja, daqueles com capacidade econômica de ter uma frota, porém, preferem não tê-la.
Esse "empobrecimento" também afetaria os decisores de instalação dos escritórios que irão preferir outras áreas "mais modernas" e frequentadas por pessoas de maior renda, como eles. Os grandes empregadores, geradores de trabalho, em geral, pertencem às classes de maior renda.
Mas a contradição principal está no objetivo de implantação de edifícios residenciais de ocupação mista, reunindo no mesmo conjunto população de alta e de média-baixa ou até de baixa renda, como existe em outras cidades mundiais.
Pode-se raciocinar e alegar que em tais conjuntos poderia haver uma compensação, com os apartamentos maiores ocupando o direito de vagas dos menores que não precisariam delas.
Ocorre que os "sem carro" de baixa renda não o são por opção, mas por falta de condições econômicas, mantendo o desejo de possuir o seu carro próprio, assim que tiverem condições.
Ao longo do tempo, esse morador "sem carro" se tiver alugado a sua vaga irá requerê-la de volta e poderá levar a uma pressão maior para ocupação em via pública, ainda que apenas no período noturno.
Dadas as limitações, os moradores com ascensão econômica tenderão a sair da área, em direção a outras áreas com menores restrições, provocando o esvaziamento ou empobrecimento da área. As restrições funcionam como teto para a ascensão econômica.
Como planejamento em longo prazo e não a solução de problemas imediatos, as regras devem considerar a evolução temporal, e considerar a dinâmica dos "sem carro" por opção daqueles por falta de condições econômicas.
No longo prazo não pode ser "condenar" as pessoas de baixa renda a permanecerem infinitamente nessa condição. Ao contrário, o plano deve prever a sua ascensão econômica e social e dentro dela a propensão para ser um "com carro". Mesmo que ele tenha condições de trabalho próximas ou acesso aos diversos locais pelo transporte coletivo, a sua aspiração continua sendo a posse de um carro, para uso no final de semana ou em viagens. Ele pode não usar o carro diariamente, mas precisa de uma vaga para deixar o seu carro estacionado.
Um planejamento deve ainda considerar a condição dos "ainda sem carro" que aspiram ter um carro no futuro, por mudanças da condição familiar. No longo prazo esse futuro será presente.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.