Terminado o ano e iniciado outro, cabe avaliar o que se pretendia, o que foi efetivado, se segue no mesmo rumo ou se revê e se altera. As pretensões do prefeito Haddad para a cidade de São Paulo foram frustradas em 2014. O principal objetivo era melhorar a mobilidade urbana. As suas mais importantes ações para isso foram a pintura de faixas nas ruas para uso exclusivo de bicicletas (as ciclofaixas), outras para uso de ônibus (as faixas exclusivas para eles), a proibição de paradas em ruas de ocupação estritamente residencial, todas retirando vagas para carros em vias públicas.
A esperança, ou pretensão, era que com a redução de vagas os motoristas não utilizassem o carro, deixando-o em casa e passando a se locomover pelo transporte coletivo ou de bicicleta.
Nada disso ocorreu, na prática: as pessoas continuaram utilizando o carro, os congestionamentos aumentaram, a mobilidade urbana piorou. As ciclofaixas ficam vazias a maior parte do tempo, os tempos de viagem por ônibus nas faixas exclusivas não melhorou substancialmente. Os ganhos efetivos foram nos corredores exclusivos, mas sem aumento significativo do seu uso. Os usuários resistem à necessidade de fazer conexões nos terminais, o que mantém um volume maior de ônibus nesses corredores, com menor lotação média.
Os motoristas foram buscar vagas em vias laterais e outras, ampliando as áreas de ocupação, dispondo-se a andar mais até chegar ao seu destino: reclamando e vociferando contra o prefeito.
Ele teima na sua política acreditando que está promovendo uma mudança cultural e que ao longo do tempo as pessoas passarão a usar mais a bicicleta, como ocorre em diversas outras cidades, visitadas pelas classes média e rica.
O período de um ano seria muito curto e 2015 se tornaria importante para um crescimento gradual do uso das ciclovias, criando bases para uma "explosão" de uso em 2016, ano de nova eleição para prefeito. Haddad espera que o uso da bicicleta seja a grande marca da sua administração. No entanto, em 2015 o tempo poderá apagar as faixas vermelhas em função do pouco uso.
A fixação na quilometragem das ciclofaixas para atender às ambiciosas metas, reduzindo mais ainda as áreas de circulação de veículos motorizados e as vagas para estacionamento, tendem a piorar a mobilidade urbana.
A crença nos resultados em longo prazo fará com que o Prefeito insista no seu programa. Ainda que vá colher resultados opostos aos seus desejos.
Não se terá redução do uso e da circulação de veículos motorizados e haverá aumento de vagas em estacionamentos pagos: principalmente nos bairros onde forem implantadas as ciclovias. Os preços, ainda mais baixos, tenderão a se equalizar aos das áreas mais demandadas.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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