A Prefeitura de São Paulo, na gestão atual, assumiu claramente uma posição a favor dos cicloativistas, contra todos os oponentes, quaisquer que sejam, acreditando que irá melhorar a cidade. Para quem?
Uma revolução se faz pela transformação de uma minoria em maioria. Os ciclistas são ainda uma minoria (ainda que qualificada) e os oponentes a maioria (embora anônima). Alguns começam agora a ter cobertura da mídia, tornando-se visíveis, como os comerciantes de Santa Cecília que, não sabendo o que fazer e a quem se queixar, foram à Delegacia de Polícia. Apenas para registrar uma queixa, chamando a mídia.
Com a implantação indiscriminada e preocupada apenas com metas quantitativas de quilômetros de ciclofaixas, pretende mudar a cultura dos moradores de São Paulo, que passarão a usar mais a bicicleta em seus deslocamentos do que o automóvel. Se isso realmente ocorrer, haverá uma melhora substancial na mobilidade urbana, pois as pessoas irão se locomover usando um veículo que ocupa muito menos espaços nas vias públicas existentes do que o carro, quando circulando. Ademais, os carros estacionados nas vias retiram um grande espaço para circulação.
A maioria dos motoristas descontentes não chega a formar movimentos de autoativistas. Muitos concordam e se dispõem a mudar o meio de transporte.
Os comerciantes de rua, que tiveram a via em frente da sua loja pintada como ciclofaixa, estão reclamando a perda de freguesia, porque eles não podem mais estacionar o seu carro em frente ou nas proximidades.
O prefeito responde que eles vão vender mais.
O que pode acontecer realmente?
Sem dúvida haverá, inicialmente, uma perda de clientela, pois há a quebra de um paradigma. As pessoas se acostumaram a pegar o carro para qualquer deslocamento, e vão deixar de fazê-lo para compras a curta distância. Vão deixar de "usar o carro para ir à padaria".
Trafegar de bicicleta tem vantagem para o comerciante. Pela menor velocidade, a sua loja ficará mais visível, com a percepção pelo transeunte de que ela existe. De carro "ele passa batido".
Mas essas pessoas irão se acostumar a fazer pequenas compras de bicicleta? Irão se acostumar a carregar os pacotes com a sua bicicleta? Ou se desenvolverá o sistema de entregas em domicílio?
O comércio de rua é predominantemente local, atendendo à população do próprio bairro, portanto, as lojas, bares, restaurantes e outros estabelecimentos estão próximos da moradia.
Com a continuidade da política a favor dos ciclistas, em médio prazo, cada vez mais pessoas trocarão o carro pela bicicleta. Mas essa política corre risco, pois atendendo a uma minoria quantitativa, vale dizer, de eleitores, poderá ser derrotada nas próximas eleições e ser alterada ou até cancelada.
Os cicloativistas são predominantemente da "elite branca". Têm maior visibilidade, são mais barulhentos, têm a adesão de muitos jovens (e outros não tão jovens) jornalistas, que são adeptos do ciclismo. A maior parte do noticiário é francamente a favor.
Mas são minoria eleitoral e só influem na opinião dela mesma.
A bicicleta não é a principal opção da classe média emergente que quer sair da má qualidade dos serviços de ônibus. A sua opção é a motocicleta, tão amaldiçoada quanto os carros.
O que acontecerá com a reivindicação dos motociclistas para trafegar pelas ciclofaixas?
E há ainda um problema adicional: onde estacionar todas as bicicletas com o crescimento da frota?
Para os estacionamentos, o aumento do uso das bicicletas contém uma ameaça: a demanda de carros irá cair. Por outro lado, os ciclistas irão buscar os estacionamentos para deixar a sua bicicleta: mas estarão dispostos a pagar o preço que será cobrado?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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