A cidade de São Paulo é muito grande e vai sobreviver às tentativas de sua destruição, como está tentando agora o PT com um Plano Diretor (aprovado pela Câmara ontem; veja nesta edição a notícia), com boas intenções, mas equivocado em relação à dinâmica da cidade.
Não basta perceber que a cidade de São Paulo deixou de ser industrial e virou uma cidade de serviços. Porque os resultados visíveis são consequência de um processo econômico que será reprimido pelas regulações estabelecidas.
O grande motor da cidade de São Paulo passaram a ser as atividades de gestão e controle das empresas, principalmente das de grande porte, que, do ponto de vista físico, se instalam em escritórios concentrados em algumas localidades, segundo lógicas que não são as preferidas ou desejadas pelo Poder Público.
O principal polo de negócios da cidade de São Paulo está numa região lindeira à marginal e ao Rio Pinheiros, locais que não contam com uma oferta adequada de transportes coletivos. O único sistema de transporte de massa disponível é uma insuficiente linha de trem metropolitano, que os empresários e seus executivos mal usam.
O acesso atual dos empresários e executivos que são também os empregadores é pelo automóvel, por vias congestionadas, com a disponibilidade de estacionamentos nos mesmos prédios onde trabalham.
A tendência mais provável é que essa lógica e comportamento prossigam, com os empregadores preferindo os locais onde seus clientes, fornecedores ou financiadores se instalaram ou estão se instalando, com continuidade de oferta pelo mercado imobiliário. Os mais importantes lançamentos de torres para escritórios estão nessa região. O poder público vai atrás, buscando a implantação de sistemas de transportes coletivos de massa, como o monotrilho.
A Prefeitura Municipal quer mudar esse comportamento. Quer que as pessoas mudem para perto dessas concentrações de escritórios, alcançando-as a pé ou de bicicleta. Ou que morem próximo às estações de metrô ou ponto dos futuros BRTs e deixem os carros em casa. Descendo da estação do trem, como, por exemplo, na estação Berrini ou Vila Olímpia, pegariam uma bicicleta até o seu escritório a cerca de 1 km. Isto é, da maneira como acham e dizem os planejadores e autoridades que ocorre em cidades mais desenvolvidas da Europa. Na realidade, em cidades mais desenvolvidas e decadentes da Europa, vivendo uma crise econômica sem precedentes.
Para forçar esse comportamento, a Municipalidade quer conter ou até eliminar a oferta de vagas para estacionamento, o que na realidade é a pílula do suicídio.
Os decisores dos locais de trabalho não vão para onde a Prefeitura quer, mas - provavelmente - para onde ela não quer. Uma das alternativas indesejadas é eles se instalarem em outro município, vizinho a São Paulo, o que é possível dada a conurbação. A cidade de São Paulo já perdeu muito das suas sedes empresariais para Barueri, com o empreendimento Alphaville, e poderá perder para Arujá.
A não serem poucas exceções, o decisor não vai trocar o carro pela bicicleta. Sem locais para estacionar o seu carro ele irá trocar de lugar para se instalar.
A consequência danosa será a redução do turismo de negócios, que é hoje uma das principais fontes de ingresso de renda externa da cidade. Sem a continuidade dessa renda, a cidade não se desenvolverá economicamente.
A realização da Copa do Mundo da FIFA em São Paulo demonstrou isso. Embora a impressão seja de uma grande invasão turística na cidade, na realidade o movimento total foi menor do que dos anos anteriores no mesmo período porque os turistas de negócios não vieram, antecipando ou adiando a sua vinda. Os hotéis e restaurantes com maior valor de ticket médio ficaram menos cheios, enquanto a Vila Madalena "ferveu", com muita gente concentrada e poucos gastos per capita.
O balanço do movimento econômico deverá mostrar um resultado pior que o da temporada da Fórmula 1.
Estacionamento tem um papel estratégico no desenvolvimento de uma cidade que tem nos negócios o seu principal motor econômico e não pode ser visto - segundo uma perspectiva provinciana - como um fator atrator de carros.
Achar que o estacionamento tem um enorme poder de sedução para atrair o carro é um equívoco mortal.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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