Parking News

Por Jorge Hori *

Nas discussões sobre questões urbanas há um grupo que denominaria de "novayorkistas" que usam os exemplos daquela maravilhosa/horrorosa cidade para defender a sua aplicação em São Paulo e em outras cidades brasileiras.
Recentemente, trouxeram para um evento de Arquitetura a sua guru novayorquina, a Secretária dos Transportes da Cidade (ou seria, segundo Dilma, a gurua), com fotomontagem de Times Square, com o seu calçadão, cheio de gente andando por ela e sem congestionamento lateral, dando a impressão de que com as restrições aos veículos as pessoas deixaram de andar por meios motorizados, optando por se deslocar a pé e usando os transportes coletivos.
Os novayorkistas defendem soluções de mobilidade adotadas na Ilha de Manhattan, mas não concordam com o brutal adensamento verticalizado que ocorreu e ocorre em Nova York, do qual o novo "arranha-céu" que substituiu as Torres Gêmeas seria um caso emblemático.
Só mostram um lado da maçã.
Os calçadões deram certo em Curitiba e foram um desastre em São Paulo. Restringir o acesso dos carros e eliminar vagas tiveram efeitos desastrosos.
Em Curitiba foram implantados quando ainda era uma cidade de classe média, com a organização do centro como um shopping center a céu aberto, com um mix de lojas semelhantes aos encontrados nesses novos centros comerciais.
Dei lá uma entrevista de rua às 7 horas da manhã, sob um frio abaixo de 7 graus, e a área já estava viva. Depois, circulando pela área, cruzando com muitos transeuntes só encontrei um morador "sem teto" dormindo sob um banco de jardim.
Cenário muito diferente do que se encontra no centro de São Paulo, que frequento por motivos profissionais, chegando ao mesmo pelo metrô, e onde a cada instante se tropeça com um sem teto dormindo na calçada. Além de sentir o mau cheiro de urina e fezes dos que fazem das calçadas o seu banheiro.
Curitiba é uma das poucas cidades que manteve a vitalidade do centro, diversamente do que ocorreu com outras capitais como Salvador, Fortaleza, Recife, João Pessoa, Rio de Janeiro e Vitória e outras que visitei ainda neste ano de 2013, participando de eventos corporativos. Em todas essas os eventos foram distantes do centro histórico. Em Belo Horizonte ainda foi dentro do centro, mas não no seu miolo, e sim na Avenida do Contorno, que marca o limite do centro. Em Curitiba, o principal polo hoteleiro continua no centro, com a sua extensão para o Batel, onde foi o evento.
Em São Paulo o calçadão foi a "pá de cal" para afastar definitivamente a riqueza da então área nobre (Rua Barão de Itapetininga e adjacências) com o comércio de luxo, que havia migrado para a Av. Paulista e depois se fixou nas bordas do Rio Pinheiros, substituído por um comércio popular, degradando econômica e fisicamente a região.
Nova York é uma cidade de classe média que convive com pequenos grupos de altíssima renda. É um quadro bem diverso de São Paulo.
Não se pode pretender transferir modelos, sem a devida redução cultural.
Não há como revitalizar o centro histórico de São Paulo sem fazer retornar a riqueza, que atualmente só ocorre de forma eventual e esporádica, em pequena escala, quando há espetáculos elitistas no Teatro Municipal ou na Sala São Paulo.
Não há como pretender que a riqueza volte ao centro usando o metrô.
A cidade precisa oferecer acesso e estacionamentos, o que não é percebido pela visão populista dos atuais governantes da cidade.


* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.

Categoria: Fique por Dentro


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