Esses são dois exemplos de um boom de shopping centers que São Paulo vive atualmente.
Nos últimos dez anos, a capital ganhou 16 novos centros de compra, um crescimento de 43% desde 2003. E a expansão não deve mudar tão cedo.
Aos 53 empreendimentos que a cidade tem hoje devem se somar pelo menos seis até 2015, incluindo outlets próximos à capital.
Entre as novidades que vêm por aí, há desde empreendimento misto, que, além de lojas, traz escritórios (caso do Cidade São Paulo), até outro menor, com lojas de luxo (o Cidade Jardim Shops, nos Jardins), passando pelos outlets e pelos que miram a classe C (Estação Jardim, na zona leste, e Tietê Plaza Shopping, na região norte).
A emergência da nova classe de consumidores, aliás, é um dos fatores apontados por especialistas para o aumento acelerado no número de shoppings - o outro motivo seria o crescimento da renda do brasileiro nos últimos anos.
"Hoje, apenas cerca de 20% dos frequentadores em São Paulo são da classe C. É pouco. É preciso pensar em shoppings específicos para esse público, que tem um grande potencial de crescimento", afirma Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da consultoria em varejo GS&BW, que tem como clientes shoppings como o Pátio Higienópolis, o Pátio Paulista e o Plaza Sul.
70% frequentam
Atualmente, 70% dos paulistanos têm o hábito de frequentar esse tipo de espaço, sobretudo para passear e comprar, segundo pesquisa Datafolha feita nos dias 2 e 3 de setembro com 615 moradores da cidade. Entre as pessoas das classes A e B, esse índice sobe para 84% e, entre os mais jovens, para 81%.
Em uma cidade como São Paulo, com sérios problemas de trânsito e de segurança, o shopping conquista por sua praticidade, na opinião da urbanista Heliana Vargas, coordenadora do Laboratório de Comércio e Cidade da FAU-USP. "A cidade tem muitas opções de lazer, mas o shopping é a preferência do paulistano por ser um ambiente organizado, confortável, onde se pode comer, comprar e ir ao cinema com segurança. Daí a popularidade", diz.
A dona de casa Maria Cristina Ferreira, 56, vai ao Anália Franco, na zona leste, pelo menos três vezes por semana. "Resolve" ali farmácia, supermercado e banco. Vez por outra, passeia e aproveita para tomar um café com as amigas. "Eu poderia fazer tudo mais perto de casa, sem nem pegar o carro, mas prefiro a segurança e o conforto do shopping."
Ainda que seja um dos principais atrativos para a população, a sensação de segurança desses espaços pode ter efeitos colaterais na vida na cidade.
Para a socióloga Valquíria Padilha, professora da FEA-USP de Ribeirão Preto e autora do livro "Shopping Center - A Catedral das Mercadorias" (2006, Boitempo), o aparato de segurança e a própria arquitetura desses espaços selecionam o tipo de público que pode entrar, gerando segregação.
"É uma perda social muito grande, porque as pessoas acabam vivendo em uma bolha sem conexão com a realidade e a diversidade da vida urbana."
Nichos
A principal tendência para que o setor continue em expansão atualmente é a diversificação dos perfis dos empreendimentos, na avaliação de Luiz Alberto Marinho.
"Hoje, 87% dos shoppings brasileiros são tradicionais, com lojas, cinemas e restaurantes. Ainda há um espaço grande para novos centros diversificados, como os shoppings de vizinhança, que são menores e pretendem atender apenas a população do bairro, para outlets e para os temáticos, focados em um segmento, como o D&D, que é só de decoração."
A urbanista Heliana Vargas acredita que, em um cenário com tanta oferta de espaços comerciais, a aposta em empreendimentos mistos - como o JK Iguatemi, que também tem escritórios - pode ser determinante para o sucesso do projeto, uma vez que eles já garantem um fluxo de frequentadores.
"Para a cidade, também é mais interessante porque cria uma abertura para o entorno e mantém aquela área viva além do horário comercial."
Fonte: Folha de S. Paulo, 29 de setembro de 2013