Cada viagem custa R$ 5,65, quase o dobro cobrado na capital (R$ 3).
Lá vamos nós
A reportagem da Folha encarou o trajeto (feito quase todo pela rodovia Presidente Dutra) numa quarta-feira de garoa. Embarcou às 9h20 e, para chegar ao destino final, levou o dobro da uma hora e meia prevista pela EMTU.
A partida é no centro de Santa Isabel, cidade com ares de interior e 50 mil habitantes - dos quais 7% usam a linha 219 diariamente.
Há um portal de madeira na entrada do município, e homens de chapéu de caubói nas ruas, a cavalo.
No ponto, os ônibus chegam a demorar 40 minutos para passar. No horário de pico, há veículos a cada 15 minutos, que partem lotados. "Para pegar o das 5h40, preciso chegar meia hora antes", diz a fiscal de supermercado Tatiana Domingos.
No começo, a rodovia tem muito verde, neblina e restaurante de beira de estrada especializado em pamonha. O coletivo acelera a 90 km/h, ao lado de caminhões e carretas.
O teleoperador Henrique Simão segue para o trabalho, na Mooca. Ele precisará pegar o metrô, e o gasto só na ida vai aumentar para R$ 8,65.
Henrique, que passa um tempo na casa da mãe em Santa Isabel, reclama: o último ônibus para São Paulo sai às 21h40 - na teoria. Na prática, "no fim de semana demora uma hora. Custo alto e benefício quase zero".
A EMTU diz que o Consórcio Internorte, responsável pela linha, foi autuado por não cumprir os horários.
O passageiro Gabriel Gobato está indo se matricular no curso de Direito da Uninove da Vila Maria (zona norte). Para ir e voltar das aulas, pensa em usar fretado - há empresas com desconto para estudantes, com valor mensal em torno de R$ 100.
O trânsito começa a dar nó pouco depois, no cruzamento das rodovias Dutra e Fernão Dias. A chegada a São Paulo é o trecho mais demorado: mais de uma hora para percorrer 6 km.
Passageiros pedem para descer com o ônibus na pista do meio da marginal Tietê, bem longe da calçada. "Cuidado com as motos!", alerta o cobrador, que logo volta a cochilar.
Na reta final, sobra Priscila Lemes. Formada em biologia, a isabelense conta que, ao procurar emprego, dá "o endereço de uma amiga que mora em São Paulo e depois arco com a passagem do meu próprio bolso".
"Como o trajeto das linhas intermunicipais é mais longo, há gastos maiores com combustível, peças e pneus", explica a EMTU.
Atrás de ofertas de lazer, Priscila e as amigas fretam uma van para sair à noite na capital. "Inviável vir de ônibus e, como todas gostamos muito de beber, não dá pra ir de carro."
Chegamos à Armênia às 12h20. Dali a quatro horas, já começariam as filas da volta pra casa. Mais R$ 5,65.
Fonte: Folha de S. Paulo, 4 de agosto de 2013