A mais nova ?macaquice? com a importação sonhadora de pequenas soluções implantadas em outras cidades é a utilização de áreas de Zona Azul para espaços de convivência, com bancos, árvores e outros equipamentos urbanos. (Veja abaixo a íntegra da notícia publicada na edição de hoje da Folha de S. Paulo ?Projeto transforma vagas de carro em áreas de convivência?, à qual o articulista se refere neste comentário.)
A ideia parece ser interessante, porém, começa com um erro: ocupar uma área de Zona Azul.
Solução de área de convivência já foi adotada, com sucesso, em trecho da rua Oscar Freire e, com relativo sucesso, na rua João Cachoeira, dois grandes polos de comércio, sendo o primeiro, predominantemente, de alto luxo.
Buscou-se uma solução de convivência, mantendo o fluxo de veículos na rua, zonas azuis e áreas de convivência, variando os recuos e uso das calçadas.
Reduzir as vagas de Zona Azul em área de grande movimento significa dificultar a acessibilidade dos consumidores às lojas. É uma medida que, diversamente do que está sendo esperado e apregoado, irá prejudicar e não favorecer o comércio local.
O que o consumidor prefere? Uma área a mais de convivência gratuita ou uma vaga a mais para estacionar o seu veículo, enquanto faz as compras?
Ele vai conviver com quem? Com conhecidos que encontrar? Com desconhecidos que encontrar na área? Ou com pessoas com quem irá marcar encontro no banco tal?
A Zona Azul tem uma função temporária. A Zona Verde seria permanente. Há uma grande contradição no tempo de uso.
A alternativa seria utilizar uma vaga comum, não de Zona Azul. Mas nesses locais há pessoas para conviver?
A concepção de que a cidade deve ser feita para as pessoas e não para os carros incide num equívoco fundamental: o carro não estará ocupando uma vaga de Zona Azul por conta própria. Estará porque uma pessoa o colocou lá. Essa pessoa também quer a cidade para ela.
Na realidade, são pessoas x pessoas. Ou melhor, pessoas numa dada circunstância, com pessoas em outras circunstâncias: todo motorista também tem a sua hora de pedestre.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.
Projeto transforma vagas de carro em áreas de convivência (06/08/2013)
A cidade de São Paulo vai testar na próxima semana uma intervenção urbana que está virando moda nas maiores metrópoles mundiais.
São os "parklets", espaços de convivência semelhantes a praças que são criados sobre vagas de carros, na rua.
Serão usadas duas vagas de Zona Azul na rua Amauri, no Itaim Bibi, e na rua Maria Antônia, em Higienópolis.
Temporárias, as minipraças vão funcionar entre os próximos dias 15 e 18.
"Parklet é o conceito americano. Vamos chamar de zona verde, como contraponto à Zona Azul. Onde era para parar o carro, as pessoas vão parar para convivência", diz Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde.
Os espaços terão bancos, local para estacionamento de bicicletas, paisagismo e guarda-corpo, para a segurança.
O projeto nasceu em 2010, mas só ganhou corpo no ano passado, após uma parceria com a Design Week, evento que chega à segunda edição.
Os dois ambientes foram projetados de forma colaborativa pelo coletivo Design OK, o grupo Gentilezas Urbanas e os escritórios H2C e Zoom.
Em outubro, haverá a segunda fase do projeto, com zonas verdes em 20 pontos da cidade por um mês, como parte da Bienal de Arquitetura.
Fonte: Folha de S. Paulo, 6 de agosto de 2013