?Essa tendência de aumento do tempo perdido é fruto da política que privilegiou o transporte privado, congelando preço da gasolina e dando incentivo fiscal para a venda de carros. Os investimentos em transporte público não foram suficientes para inverter essa tendência?, diz o pesquisador Carlos Henrique Carvalho, um dos autores do trabalho, que usou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE. Carvalho lembra que esse tempo médio de deslocamento é puxado para baixo pelos mais pobres, que, por não terem o dinheiro para o transporte público, são obrigados a conseguir trabalho em locais próximos à residência para ir a pé ou de bicicleta. Por isso, 58% dos mais pobres (faixa de renda de até um quarto do salário mínimo per capita) gastam menos de 30 minutos no trajeto para o trabalho. ?Esse dado do IBGE inclui todos os deslocamentos motorizados ou não?, explica.
O estudo mostra também a ineficácia das políticas de auxílio transporte para as camadas mais pobres. De acordo com a PNAD, apenas 11% das pessoas extremamente pobres recebem vale-transporte. ?As classes baixas têm os maiores percentuais de informalidade no trabalho, de forma que a política do vale-transporte não atinge justamente quem mais precisa?, ressalta o estudo. A Região Metropolitana do Rio de Janeiro apresentou o pior resultado do país. A média do tempo gasto nos deslocamentos de casa para o trabalho ficou em 47 minutos, um crescimento de 7,8% em relação à última PNAD, de 2002. O percentual de fluminenses que levam mais de uma hora no trajeto também foi o maior: 24,7%.
A Grande São Paulo ficou em segundo lugar, com um tempo médio de 45,6 minutos. O crescimento, no entanto, foi maior: 19,6% desde 2002. O percentual de trabalhadores paulistas que levam uma hora ou mais no transporte é de 23,5%. Para Carvalho, do Ipea, o pior desempenho do Rio estaria ligado a motivos geográficos e históricos. ?Historicamente, São Paulo investiu mais no transporte público. É só ver a malha de metrô dos paulistas e a dos cariocas, que é uma tripinha. Além disso, a distribuição geográfica de São Paulo é mais circular, o que permite que as pessoas morem mais perto do trabalho. O Rio é espremido entre o mar e a montanha?, explicou o pesquisador. O professor de Engenharia de Transportes da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rômulo Orrico, fez a ressalva de que não conhece os dados do estudo, mas lembrou também que o Centro do Rio, grande polo de trabalho, não fica no centro geométrico. Além disso, ele mencionou a maior rede de trens e metrô da capital paulista.
Fonte: Brasil Econômico (SP), 25 de outubro de 2013