Garagens ocupadas são cada vez mais comuns em bairros distantes do centro, porém. O crescimento é inexorável. No processo de ascensão social pelo consumo, "carro para todos" é a ideia subjacente a cada redução de IPI e nova facilidade de financiamento. É justo como ideal, mas inviável como modelo.
A universalização da posse de veículos levará também à universalização dos congestionamentos. Ruas estreitas das periferias passarão a sofrer a mesma saturação das vias centrais. As avenidas de ligação da cidade somarão o fluxo de ambos os lados, e o trânsito em São Paulo evoluirá do "lento" para o "quase parando". Pode ser o começo da mudança.
Em 14 dos 96 distritos paulistanos já não há vantagem de tempo no deslocamento até o trabalho para quem tem carro em casa. Parte desses distritos é servida por trem (Vila Leopoldina) ou metrô (Barra Funda). Os demais são distritos com oferta de empregos, como Itaim e Vila Maria, o que diminui a necessidade de seus moradores percorrerem grandes distâncias para trabalhar.
A expansão da rede de transporte público de massa e a desconcentração geográfica das vagas de emprego são as duas únicas alternativas já comprovadas à saturação de carros nas ruas de São Paulo. Possuir um veículo continuará sendo sinal de status e uma ambição legítima de todos os paulistanos, mas, paradoxalmente, cada vez menos será sinônimo de ganho de tempo.
Enquanto a mudança de modelo não ocorre, todavia, os dados do Censo 2010 deixam entrever um futuro de cada vez mais longos e onipresentes congestionamentos à medida que a posse de carro vai aumentando em direção às regiões mais periféricas da cidade.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 26 de maio de 2013