As primeiras garagens serão construídas na Praça Ramos de Azevedo, Mercado Municipal, Praça João Mendes e no Pátio do Colégio. Ao todo, serão 1.720 novas vagas. O estudo da Prefeitura leva em conta o preço e a demanda. O subterrâneo da cidade é público e não precisa ser desapropriado, já terrenos no Centro são escassos e caros.
A procura por vagas é o chamariz para a iniciativa privada embarcar no projeto e custear a construção dos equipamentos mediante a concessão para a exploração do serviço. "Só três empresas manifestaram interesse (pelo projeto anterior) e mesmo assim duas delas não tinham nada a ver com o objetivo do programa", afirmou o secretário do Trabalho e Desenvolvimento Econômico, Marcos Cintra. As quatro garagens saem na frente por já contarem com estudos elaborados pela Emurb, aproveitando o desenho das vias da cidade. "Fazer a estrutura sob as ruas é mais simples por que não há o peso dos prédios", disse Cintra. Ele estima que a garagem da Praça Ramos custará em torno de R$ 57 milhões, mas esse valor pode ser maior. "Você cava e pode achar um cabo de energia. Não se conhece muito bem a infraestrutura enterrada. Isso pode encarecer a obra", afirmou.
O plano prevê ainda outras 70 garagens espalhadas pela cidade, todas construídas em parceria com a iniciativa privada. A Prefeitura não descarta, inclusive, a possibilidade de mexer na Zona Azul da cidade e, se necessário, passar a administração de determinadas regiões para o concessionário que obtiver o direito de exploração do sistema. "Assim evita-se o conflito de interesses", disse Cintra. Memória
O projeto tem como base estudos feitos na gestão de Alexandre Moraes, que acumulava as pastas de Transportes e Serviços. Ele havia proposto a construção de garagens verticais, que funcionariam como a Zona Azul. A ideia foi bastante criticada por seu alto custo, que envolveria desapropriações em áreas muito valorizadas, e também pelo projeto trazer poucas definições e não oferecer garantias aos investidores, operadores e construtores. O prefeito Gilberto Kassab chegou a anunciar o projeto da construção de 64 garagens verticais em novembro de 2009, mas não houve interesse por parte do setor privado e a ideia foi abandonada em julho deste ano.
"A demanda é gigantesca. O Centro da cidade de São Paulo depende fundamentalmente de uma política de estacionamento mais adequada", afirmou Cintra. Para ele, um diferencial importante do novo plano em relação ao anterior é a definição clara das funções. "Quando sair, o projeto será bem amarrado, com editais de licitação, dizendo o que vai ser feito, aonde, como, a que preço, em que condições, qual a participação do setor público e do setor privado em cada uma dessas garagens a serem construídas", afirmou. Conta a favor do projeto a criação da SPP (São Paulo Parcerias), empresa cuja função é planejar e executar todos os projetos que envolvam concessões e PPPs (Parcerias Público Privadas). A empresa será capitalizada pela Prefeitura e poderá dar lastro aos investimentos. Cintra estima que a licitação das outras 70 garagens deverá sair até agosto ou setembro de 2011 e em 30 dias a Prefeitura poderá autorizar o trabalho das consultorias que coordenarão o projeto.
Novo plano pode ser viável, afirma Sindepark
De acordo com o presidente do Sindepark (Sindicato da Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo), Sergio Morad, os novos planos da Prefeitura sobre estacionamento têm mais chance de funcionarem do que os anteriores. "Na forma em que está sendo apresentado agora, há boas perspectivas de se viabilizar", afirmou Sergio. "Era muito difícil implantar as garagens verticais. Os terrenos estavam em regiões supervalorizadas e era difícil obtê-los em valores compatíveis com a viabilização do negócio", comentou.
Para Sergio, a escolha cuidadosa do local e do tamanho das garagens é um ponto crucial, para que o investimento compense financeiramente. Segundo ele, uma pessoa não para o carro a mais do que 200 metros de onde precisa ir, em média. "A sazonabilidade é inimiga da viabilidade. É necessário que o projeto seja muito preciso quanto ao porte da garagem em relação à demanda. Não adianta fazer estruturas enormes com vagas ociosas porque isso inviabiliza o projeto. O custo por vaga é muito alto. O prazo da concessão também é importante", afirmou.
Sergio cobra que haja melhor regulamentação no setor. "É necessário haver legislação para coibir os estacionamentos irregulares, instalados em imóveis impróprios, como acontece na região central", disse.
Área tombada poderia ganhar mais vagas
Em 2007, Kassab chegou a anunciar a construção de uma garagem subterrânea no Parque do Ibirapuera. A obra acabou não vingando. Urbanistas criticaram a medida devido ao fato de o parque ser tombado pelo Patrimônio Histórico.
Fonte: Diário de São Paulo, 4 de novembro de 2010