Um dos principais passos nesse sentido foi o anúncio de uma parceria do Google com as montadoras Audi, General Motors, Honda e Hyundai, e com a fabricante de chips Nvidia, para criar a Aliança Automotiva Aberta, que pretende levar o sistema Android para os carros até o fim deste ano. Em junho de 2013, a Apple já havia anunciado iniciativa semelhante para o sistema iOS, em parceria com um grande número de marcas: Honda, Mercedes Benz, Nissan, Ferrari, Chevrolet, Kia, Hyundai, Volvo, Infiniti, Jaguar e Acura.
?O investimento feito por essas empresas tem um grande peso no mercado. Ao colocar um sistema operacional nos kits multimídia que já existem nos carros hoje, você abre todo um mercado de aplicações e possibilidades?, diz Marcelo Ehalt, diretor de engenharia da Cisco, que investe no desenvolvimento de chips para carros.
Além do Google, a fabricante do relógio inteligente Pebble mostrou na CES um sistema desenvolvido com a Mercedes-Benz para conectar seu relógio aos carros da marca. Já a Audi e a Chevrolet anunciaram planos para levar 4G aos carros neste ano ? a operadora americana AT&T está desenvolvendo planos 4G específicos para carros ?, enquanto a Qualcomm anunciou um processador Snapdragon com conexões 3G e 4G, wireless e Bluetooth. ?A próxima fase dos carros é não apenas conectá-los a internet, mas conectar os veículos uns aos outros?, avisou o novo presidente da Qualcomm Steve Mollenkopf, durante a CES.
Revolução? Em cinco anos, existirão 60 milhões de carros conectados no mundo, segundo projeção da empresa de pesquisa GSMA. Em 2018, serviços de hardware, software e telecomunicações para automóveis movimentarão US$ 51 bilhões em receita no mundo. Isso porque as montadoras apostam que em 2016 a conectividade nos veículos já será um fator crítico na decisão de compra de um carro.
?Nos dois últimos anos tivemos uma revolução em relação à oferta de conectividade nos carros brasileiros?, diz o gerente geral de marketing da Ford, Oswaldo Ramos. ?A demanda é muito acima do esperado.? A empresa diz que até o fim deste ano, todos os seus modelos já terão alguma conectividade.
Além do acesso à internet, há ainda o carro autônomo, com piloto automático que exclui a necessidade de motorista. Nissan e General Motors são algumas das fabricantes que desenvolvem essa tecnologia, mas o modelo mais conhecido é o desenvolvido pelo Google, com expectativa de chegar ao mercado em menos de cinco anos.
Muitas montadoras já oferecem, inclusive no Brasil, modelos que estacionam, aceleram e freiam sozinhos. Mas apesar do otimismo, há inúmeras limitações a serem superadas para a massificação desse tipo de tecnologia.
Escala
?O problema do carro conectado e da internet das coisas é o volume. Não temos rede suficiente para conectar tudo e criar escala. O sistema vai congestionar. A rede hoje já não é rápida?, diz o professor de engenharia da Universidade de São Paulo (USP) Edison Spina, pesquisador do tema.
A questão da infraestrutura é vista como um problema tão sério não só no Brasil, mas em todo o mundo que, embora a tecnologia para direção autônoma seja mais complexa, pode ser mais fácil de ser implantada no mercado do que conectar toda a frota mundial de carros à web. ?A falta de infraestrutura é muito limitante, e não depende só da indústria automobilística para ser resolvida. Operadoras de telefonia e agências de regulação têm que ser envolvidas?, diz Fábio Maia, líder de Projetos de Sistemas Embarcados do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R). Nos EUA, empresas como a Cisco já fazem lobby no Congresso para abrir uma nova banda e criar um serviço de internet sem fio mais rápido para carros.
A aliança feita por Google e Apple com as montadoras e desenvolvedoras de chips, porém, mostra a disposição de todos os atores envolvidos nesse mercado para resolver os impasses que, nos últimos dois anos, limitaram a conectividade a funções simples, como ouvir no som dos carro as músicas do tocador de MP3 do celular.
?O grande desafio é: como manter uma tecnologia embarcada no carro atual se os computadores avançam todos os anos, mas o carro é feito para durar uma década??, questiona o diretor do Centro de Pesquisa Automotiva da Universidade de Stanford, Christian Gerdes.
Da segurança na rede à definição de um modelo de negócio para comercialização de cartões SIM e banda larga para automóveis, muitos padrões ainda precisarão ser definidos. Mas as mudanças dos próximos anos são inevitáveis. ?As cabines dos carros ficarão cada vez mais conectadas ao celular. Já os benefícios da comunicação entre veículos devem demorar para aparecer, porque dependerão da presença dessa tecnologia em todos os automóveis para funcionar, o que levará muitos anos?, diz Gerdes.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 12 de janeiro de 2014