"Fizemos a primeira abordagem em 2007 e uma outra em 2008", explica Luizemir Lago, diretora do Cratod. "O único evento que marca a passagem entre os anos e que pode explicar a queda dos índices é a lei de trânsito e toda a discussão e conscientização trazidas pela adoção da nova legislação."
Em cada ano, foram 252 pessoas submetidas a um teste chamado Assist (sigla em inglês para Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening). A enquete é usada internacionalmente para avaliar em tempo curto o perfil do usuário de substâncias chamadas de psicoativas, como cigarro, bebida, maconha ou cocaína.
Apesar de a legislação que endureceu as penas para o motorista flagrado com álcool no sangue receber créditos para a redução dos bebedores diários, Elisaldo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), ressalta que ainda é limitado o conhecimento sobre os impactos da lei.
"Nós ainda não temos informações suficientes para mensurar o alcance da lei", argumenta. "Os dados são confusos. Variam de acordo com a região em que são levantados, uma hora indicam melhoras, em outra não", diz, para sustentar que o diagnóstico positivo ainda não é incontestável.
Rosângela Elias, coordenadora da área de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde, reforça que o comportamento prudente de beber e não dirigir - que pode ser estendido para o não beber exageradamente - oscila. "E a oscilação está intimamente ligada à fiscalização. A vigilância constante muda hábitos definitivamente. Mas se existem brechas, as pessoas acabam permitindo exceções", acredita a especialista.
É fato que para a lista de benefícios trazidos pela legislação de trânsito, que entrou em vigor em junho do ano passado, está a queda de 3,7% das mortes em acidentes de trânsito no Estado, como mostraram os dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública na semana passada. Em 2007, 4.844 perderam a vida nas colisões, 173 vítimas a mais do que as 4.671 registradas em 2008.
"A redução de acidentes é um fato que nos evidencia que a lei funciona, mas a mudança de hábito eu não avalio que tenha sido conquistada", diz o psiquiatra do Hospital Albert Einstein Sérgio Nicastri, especializado em álcool.
A avaliação completa e em longo prazo da efetividade da Lei Seca é um dos objetivos do Instituto Nacional de Políticas Públicas, entidade criada em dezembro pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Com investimento de R$ 2,4 milhões, o coordenador, Ronaldo Laranjeira, pretende criar uma linha de pesquisa para assegurar o que, de fato, pode ser creditado como o objetivo da legislação.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 7 de fevereiro de 2009