Com o V40, a Volvo oferece algo há muito tempo preconizado por organizações e críticos do carro que defendem formas alternativas de transporte: melhorias na segurança para beneficiar as pessoas que estão dentro de um veículo, que são os indivíduos para os quais o carro representa o maior perigo.
O número de vítimas nas estradas na Alemanha, especialmente o de pedestres mortos, aumentou novamente no ano passado. Em 2011, 612 pedestres perderam a vida, 136 mais do que no ano anterior.
A União Europeia baixou regulamentos que está em vigor há sete anos, mas as normas não atenderam absolutamente aos objetivos da Comissão Europeia. O capô e a parte dianteira dos carros agora devem ser mais flexíveis, mas medidas seriam introduzidas para solucionar o problema da armação de metal rígido em torno do para-brisa do veículo.
Pesquisadores especializados em acidentes sabem que essa é a área que provoca ferimentos mais graves na cabeça, com frequência fatais.
Mas não é fácil tornar o suporte do para-brisa mais flexível. Essa estrutura tem um papel importante na rigidez da carroceria como um todo. Ela protege os passageiros se o carro vira. Portanto, o airbag seria a única maneira viável para amortecer o impacto sofrido por um pedestre.
Mas os mesmos fabricantes que fornecem airbags laterais e dianteiros para proteger seus clientes não se mostram dispostos a ir mais longe para melhorar as chances de pedestres sobreviverem a um acidente.
Imagem de segurança
Agora a Volvo aumenta a pressão sobre o setor como um todo e ao mesmo tempo aproveita a oportunidade para melhorar sua imagem num segmento em que corre o risco de perder espaço.
Com sede na cidade de Gotemburgo, na Suécia, a Volvo vende cerca de 450 mil carros por ano, o que a torna uma participante menor no setor. Mas, ao contrário da Saab, outra marca sueca que se desintegrou ao ser adquirida pela General Motos, a Volvo ainda é forte.
Imperturbável, uma nova equipe de executivos formada principalmente por administradores alemães pretende reviver o último grande santuário da Escandinávia no campo da fabricação de carros. Peter Mertens, que trabalhou na Daimler e agora é vice-presidente sênior da Volvo, na área de pesquisa e desenvolvimento, adotou o conceito do "luxo escandinavo" como fórmula para desenvolvimento de produto. Ele caracteriza os clientes da Volvo como cidadãos-modelo - consumidores responsáveis, educados e sofisticados com um enorme poder de compra.
O que pode melhor se coadunar com a visão de mundo de um indivíduo como esse do que um solidário airbag? Claro que o novo airbag da Volvo implica um conjunto de incrementos engenhosos. Sete sensores na parte dianteira do carro deverão reconhecer se o veículo está de fato atingindo uma perna humana e não, por exemplo, um carrinho de supermercado; cápsulas de pólvora liberam o capô das juntas, abrindo uma fenda pela qual o airbag sai e se expande até chegar ao seu enorme volume de 120 litros numa fração de segundo.
O fato de uma pequena empresa fora da Suécia ser a única fabricante desse novo airbag faz com que o novo dispositivo seja visto com certa incredulidade pelos impérios do setor automobilístico, como a Volkswagen, companhia que contabiliza bilhões, mas não faz nada para proteger os pedestres.
A Volkswagen emitiu comunicado sobre sua posição a respeito do airbag externo, afirmando ser "impossível descartar a possibilidade de o airbag se abrir acidentalmente e tapar a visão do motorista na estrada". A Mercedes também expressou a mesma preocupação.
Parece, no entanto, que o airbag da Volvo vai dissipar essas reservas.
Ele se expande em forma de uma banana que cobre a armação do para-brisa, mas deixa grande parte desse mesmo para-brisa livre, já que, comparativamente, ele é uma superfície mole, e portanto não é a parte mais perigosa.
"Uma abertura acidental do airbag é tão prejudicial quanto improvável", diz Broberg, engenheiro da Volvo. E ele explica que a companhia testou muitos cenários possíveis. Bolas de futebol e carrinhos de mão, por exemplo, não ativaram o airbag.
Do mesmo modo, diz ele, preocupações de que pontapés num Volvo estacionado para ativar o airbag pode se tornar um novo hobby para os desocupados são infundadas. "O airbag só pode ser ativado quando o carro está em movimento, em velocidades entre 20 e 50 quilômetros por hora", portanto uma pessoa só pode dar um pontapé no carro, para acionar o airbag, quando ele estiver se movimentando. E ele conclui: "E qualquer um que fizer isso sem dúvida precisa de um airbag".
Fonte: Der Spiegel, publicado por O Estado de S. Paulo, 17 de junho de 2012