"As instituições que por determinação legal deveriam assumir a responsabilidade por uma mobilidade segura se eximem dela, colocando a culpa nas vítimas", disse à agência EFE o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador de Estudos sobre a Violência da Flacso e autor do relatório.
O estudo, elaborado com base em dados do Ministério da Saúde, mostra que a criação de um Código de Trânsito mais rigoroso em 1998 apresentou resultados provisórios bem-sucedidos, mas, que agora, já perdeu seu efeito.
O número de mortos cresceu gradualmente até 35.620 em 1997, enquanto, em 1998, esse número caiu para 30.890 e, em 2000, para 28.995, graças a uma legislação mais severa. No entanto, o número de mortes voltou a crescer nos anos seguintes até alcançar esse incomodo recorde em 2011, quando 43.256 pessoas morreram em acidentes de trânsito.
A quantidade de vítimas cresceu a uma taxa anual de 4,8% desde 2000 e, segundo o estudo, "o mais preocupante é que a tendência evidente é que o ritmo continue aumentando a uma média anual de 3,7% nos próximos anos".
O mesmo ocorreu com a taxa de mortes em acidentes por cem mil habitantes, que aumentou desde 1980 (17,0) até 1997 (22,5); caiu no período entre 1998 (19,1) e 2000 (17,1), mas voltou a subir em 2011 (22,5), o nível prévio à criação da nova lei de trânsito.
A taxa de 22,5 mortes por cem mil habitantes situa o Brasil na 33º posição dos países com mais violência no trânsito da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esta lista é liderada pela República Dominicana, com uma taxa de 41,7 óbitos para cem mil habitantes, mas cujo número absoluto de mortes (4.143, em 2010) é quase dez vezes inferior ao do Brasil.
A maioria dos países que ocupam o topo dessa lista vem da África e da Ásia, mas, antes do Brasil, também aparecem Venezuela (37,2 óbitos para cem mil habitantes) e Equador (27,0).
A Flacso também identificou uma significativa mudança na estrutura da violência do trânsito a partir de 1996.
"Enquanto o número de pedestres mortos caiu 52,1% entre 1996 (24.643) e 2011 (11.805), o de motociclistas subiu 932,1% desde 1996 (1.421) até 2011 (14.666)", diz o estudo. As mortes entre ciclistas (203,9%) e motoristas (72,9%) também aumentaram durante este período, mas em um ritmo menor.
O número de mortes de motociclistas que era de 4,0% do total em 1996 passou para 33,9% em 2011, enquanto o de pedestres era de 69,8% em 1996 e caiu para 27,3% em 2011.
As mortes de motociclistas subiram 15% por ano e passaram a ser um terço do total em 2011, além da "preocupante tendência a subir".
Excluídos os motociclistas, o número de mortos em acidentes cai de 33.860, em 1996, para 28.590, em 2011, com uma baixa de 16,0% no período, em vez do crescimento de 21,6% registrado.
"Os motociclistas constituem na atualidade o fator impulsor de nossa violência cotidiana nas ruas, fato que tem que ser enfrentado com medidas e estratégias adequadas à magnitude do problema", conclui Waiselfisz.
Fonte: agência EFE, 21 de novembro de 2013