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Automóveis tratados a pão-de-ló. Essa preocupação está cada vez mais acentuada, sobretudo nos empreendimentos de alto padrão.

Foi-se o tempo em que os carros ficavam em um lugar úmido, escuro e esquecido. Nos edifícios mais novos e sofisticados, amplas e numerosas vagas são decisivas na hora de uma família decidir fechar negócio, e as construtoras sabem disso.

Um exemplo? Um apartamento do edifício LEssence, da Vila Nova Conceição, bairro nobre da zona sul paulistana, custa 11,5 milhões de reais porque, entre outros motivos, oferece oito vagas na garagem. Essa tendência está presente em praticamente todos os tipos de imóveis.

Nos edifícios da construtora Paulo Mauro, cujos apartamentos de quatro dormitórios em Perdizes (zona oeste) custam de 500.000 a 600.000 reais, o número de vagas para os carros costuma ser no mínimo igual ao de quartos.

Sem falar que as novas garagens são bem iluminadas e ventiladas, têm vagas amplas, paredes azulejadas, piso de material diferenciado e depósito para utensílios e ferramentas. "Muitas vezes, a pessoa usa mais a garagem que um dos dormitórios. É um dos itens mais importantes de um empreendimento", diz Marcel Mauro, diretor da construtora. "Hoje, a grande demanda de qualquer condomínio é pela vaga".

Exagerando, o espaço destinado aos automóveis, sobretudo em apartamentos menores, é praticamente o mesmo reservado aos moradores", afirma Gilberto Faria, sócio-gerente da GV Administração de Condomínio.

Ele cita o caso de um condomínio com apartamentos de 49 metros quadrados e duas vagas, cada uma com 15 metros quadrados. Ou seja, as famílias têm minguados 19 metros quadrados de vantagem em relação aos veículos. "A garagem responde por 70% das decisões de compra. Se a vaga não for boa, as pessoas não fecham negócio", diz a corretora de imóveis Cleuza Regina dos Santos, que trabalha na zona oeste de São Paulo.

Essa tendência também chegou ao interior de São Paulo. O analista de sistemas Mario Fujikawa Silveira, 24 anos, de mudança para Vinhedo (SP), só decidiu comprar o novo apartamento de dois quartos ao saber que sua picape Corsa vai ficar bem guardada. "A vaga é maior que a dos outros, pois sobrou um espaço no terreno", afirma.

Os mimos não se limitam ao espaço. Há condomínios que oferecem serviços como lavagem em domicilio igual à existente em shopping centers. A diferença é que nem é preciso mexer no carro: basta usar o telefone. "É uma comodidade a mais. A pessoa não precisa sair de casa para lavar o veículo", diz Vanderlei Justo Junior, diretor da empresa ProntoWash.

Dois em uma - Se existisse uma vaga dos sonhos, ela seria coberta, espaçosa, predeterminada, sem interferência de outros veículos e, de preferência, perto do elevador.

Na falta dessas características, o que muitos síndicos têm feito é buscar formas de melhorar o convívio entre carros e vizinhos.

Uma das soluções mais engenhosas foi herdada de grandes estacionamentos verticais: são os pallets, semelhantes aos elevadores de postos de combustível usados na troca de óleo. O motorista estaciona sobre a estrutura atrás de outro veículo.

Em vez de elevar o carro, ela desliza lateralmente por um trilho, liberando a passagem. Só é preciso cuidado, para não haver batidas de retrovisores, por exemplo. "O pallet pode até duplicar o número de vagas", diz Sergio Sztyzberg, gerente comercial de uma fabricante do equipamento. Outra opção é fazer um rodízio anual das vagas, definidas por sorteio. "Se alguém recebe uma vaga não tão agradável, será só por um ano", diz Moacir Pimenta, gerente de condomínios da Globo Imóveis.

Há versões mais sofisticadas dessa prática, que divide os carros pelo tamanho. Mesmo assim, pode haver contratempos. "Falar de carro mexe com a auto-estima das pessoas. Uma vez, o dono de um Fiat Uno me disse: "Ah, você acha que eu não vou ter capacidade de comprar um carro maior? Não é fácil", diz uma síndica, que prefere não se identificar.

Qualquer que seja a regra, a boa vizinhança é fundamental para a garagem não se tornar um estorvo. O prédio onde vive a vendedora Krisciane Paula Simões, 32 anos, é antigo e não há solução tecnológica para as vagas duplas, onde é preciso manobrar um carro para estacionar outro. "Soube que minha vizinha estava grávida e imaginei o trabalhão que ela teria empurrando meu carro. Entramos num acordo: eu tenho a chave do carro dela, e ela, a do meu", afirma Krisciane, dona de um Uno Mille.

A filha de Samanta Pinheiro Siqueira, 24 anos e dona de um Palio, já tem 5 meses. As vizinhas ainda têm as cópias das chaves e nunca brigaram por causa da garagem.

Fonte: Revista Quatro Rodas (São Paulo), Abril/2007


Categoria: Mercado


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