Muitos carros e pouco espaço para movê-los ou estacioná-los. Essa realidade, familiar a muitos paulistanos e demais moradores de cidades grandes brasileiras, foi enfrentada também por Madri. Na capital espanhola, o carro é preferido por 50% da população, ainda que tenhamos um sistema de transporte público integrado, com metrô, ônibus e trens que cobrem toda a cidade.
Para solucionar o problema da mobilidade e permitir a circulação de carros, bem como o uso democrático dos espaços públicos de estacionamento, Madri investiu em um sistema de zonas especiais, no controle automatizado e em garagens subterrâneas. A aposta era que soluções integradas e uma política de estacionamento fossem capazes de atender a uma frota de 2 milhões de veículos particulares.
Criamos zonas azuis e zonas verdes, para diferentes pontos da cidade. As vagas azuis, nas áreas comerciais, custam 1 euro por hora e 2,50 euros por duas horas, justamente para desestimular o uso prolongado do espaço.
As zonas verdes, nas áreas residenciais, têm o uso preferencial dos moradores do bairro, que pagam uma taxa mínima (30 euros por ano) e usam a vaga de forma ilimitada. Os visitantes somente podem usá-lo em determinadas horas e pagam 1,80 euro por hora. Foi instalado um parquímetro eletrônico para cada 25 vagas, controlado por GPS e vigiado por 800 fiscais de rua, que autuam os infratores. Os parquímetros funcionam com energia solar e podem ser pagos com cartão de crédito, cartão pré-pago e até por celular, com tarifas variadas.
São uma alternativa muito mais eficiente do que o sistema de boletos, que dificulta a fiscalização, ao mesmo tempo em que facilita a ação de intermediários e falsificadores.
Em contrapartida ao preço do estacionamento rotativo público, que é progressivo de acordo com o número de horas em que o veículo permanece na vaga, os estacionamentos privados passaram a cobrar menos quanto mais tempo o usuário os utiliza.
Isso porque, construídos em espaços subterrâneos e em regime de concessão à iniciativa privada, eles ajudam a tirar os carros de circulação das ruas. Já são 254 estacionamentos deste tipo em Madri.
A experiência nos mostrou que a circulação nos centros urbanos depende de investimentos em transporte público e de regulação do uso do privado. É possível até permitir o estacionamento de veículos em áreas centrais, geralmente mais abarrotadas, desde que respeitado o delicado equilíbrio da cidade - de limitar o número de vagas e estimular a rotatividade de seus usuários.
Nas zonas onde se implementou a regulação de estacionamento em via pública, se obteve uma significativa adoção do transporte público em detrimento do privado, o que beneficia a cidade.
Madri aprendeu que o complexo sistema de transporte de uma cidade grande exige uma autoridade única, que centralize a operação, mas múltiplas iniciativas conjuntas. A mobilidade sustentável não tem uma solução - tem soluções.
Fonte: Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 29 de março de 2007