Nas paredes, fios expostos e nada de extintores. O chão é normalmente de azulejo, herança de uma época em que os prédios hospedavam lojas e firmas no Centro antigo. E são poucas vagas, às vezes cinco ou seis, ocupadas da forma mais exaustiva possível. Mas é quando um veículo do fundo precisa sair que a cidade mais sofre com os estacionamentos clandestinos da região central.
Por falta de uma área interna de manobra, os estabelecimentos das Ruas Conselheiro Crispiniano e Líbero Badaró simplesmente ignoram a legislação de trânsito e colocam todos os carros na rua, criando confusões diárias que complicam ainda mais os congestionamentos.
No começo desta semana, o Jornal da Tarde acompanhou a rotina. Por preços que variam de R$ 2 a R$ 4 pela primeira meia hora, manobristas recebem clientes em ambientes totalmente inapropriados. Segundo o tenente Palumbo, do Corpo de Bombeiros, a maioria das garagens não possui os elementos básicos de segurança, como hidrantes. "É um risco enorme", diz.
A própria Subprefeitura da Sé, atualmente, tem mais de 50 processos administrativos encaminhados que podem levar ao fechamento dos irregulares. Mas, como o próprio órgão assume, muitas vezes multas e punições não resolvem o problema, já que os proprietários mudam de número no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).
Para Sérgio Morad, presidente do Sindepark, sindicato que representa as empresas paulistanas do setor, a exploração desse tipo de ponto é apenas mais uma praga trazida pela deterioração do Centro. "Os clandestinos não operam porque o mercado está bom na região. Aproveitam apenas o abandono das lojas", acredita. Segundo ele, essa "distorção urbana" seria corrigida com a revitalização do entorno. "Se houver uma recuperação, as lojas vão voltar, como antigamente", afirma.
O empresário explica que, normalmente, os estacionamentos que funcionam em prédios adaptados não têm a inscrição municipal. "Não recolhem ISS (Imposto Sobre os Serviços) e também tendem a não cuidar da mão-de-obra, tanto com treinamentos como fornecendo benefícios trabalhistas." É um incentivo ao comportamento irresponsável de quem pára os veículos.
Morad cobra maior rigor das autoridades municipais no combate à proliferação dos estacionamentos irregulares. "Cabe ao governo fazer a fiscalização dos alvarás", argumenta.
A Subprefeitura da Sé, por sua vez, explicou que faz vistorias constantes, mas atua apenas por denúncia. O órgão afirmou que, após a publicação da reportagem, tomaria providências sobre os estabelecimentos denunciados.
CAROS E IRREGULARES
50
processos tramitam na Subprefeitura da Sé para fechamento
de estacionamentos clandestinos, mas proprietários se valem de manobras como mudar o numero do cadastro de pessoa jurídica
R$ 2
é o menor preço encontrado para a primeira meia hora de estacionamento no Centro da cidade. Alguns estabelecimentos chegam a cobrar R$ 4 para abrigar um veículo por 30 minutos
Fonte: Jornal da Tarde (São Paulo), 29 de março de 2007