Um movimento de consolidação está alimentando o crescimento das três maiores redes de estacionamento do país, que projetam taxas de expansão para a receita este ano de até 150%, apesar da crise econômica. As líderes Estapar, do BTG Pactual, Indigo, da francesa Infra Park, e a Pare Bem, do Pátria Investimentos, não estão ampliando vagas por meio da abertura de mais terrenos. A estratégia tem sido comprar concorrentes menores ou tirar clientes desses rivais no momento de renovação de contratos. Outro vetor de expansão é a terceirização de garagens em prédios, como shopping centers, hospitais e supermercados, que ainda tem operação própria de suas vagas.
Os executivos das empresas dizem que a entrada em operação de novas unidades tem sido determinante para compensar a queda de tráfego de veículos, provocada pela recessão e pelo aumento do uso de aplicativos de transporte - como Uber, 99 e Cabify, por exemplo. Esse ambiente mais adverso vem reduzindo o ritmo dos reajustes de preços dos estacionamentos. Nos últimos três anos, a variação acumulada em 12 meses dos valores cobrados caiu significativamente. Era de 13% em 2014, ficou em 10% em 2015, e desacelerou para 3% desde meados de 2016, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) do IBGE.
Por isso as companhias têm necessidade de buscar ganhos de escala. "Há muito espaço para crescer porque o mercado brasileiro é muito pulverizado", diz o presidente da Pare Bem, Roberto Cerdeira, destacando que o Brasil ainda apresenta média baixa na relação de carros por mil habitantes. Enquanto nos Estados Unidos para cada mil habitantes há 800 veículos e no Japão e na Europa são 600, no Brasil há 150 carros para cada mil habitantes.
Segundo o Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark), apenas a capital paulista soma 5,4 mil estacionamentos com 500 mil vagas. Não há dados nacionais do setor. Juntas, as três maiores redes brasileiras somam menos de 1,4 mil estacionamentos em todo país.
A Pare Bem tem meta de elevar em 150% a receita este ano ante 2016 com unidades de rivais que vêm sendo adquiridas desde o ano passado. "Nossa meta é atingir R$ 250 milhões [em receita] este ano", disse Cerdeira. "Esse número não inclui eventuais novas aquisições que podemos fazer". Segundo ele, o faturamento da empresa foi de aproximadamente R$ 50 milhões em 2015 e de R$ 100 milhões em 2016, "Estamos mirando oportunidades em diversas regiões do Brasil, sobretudo no Sudeste, sempre com foco em escala", disse.
Fundada em1983, apaulista Pare Bem foi comprada em 2015 pelo Pátria Investimentos, com recursos do fundo de infraestrutura da gestora de recursos. Desde então, a rede saltou de 44 estacionamentos e 30 mil vagas para 172 estacionamentos com 92 mil vagas, chegando hoje a 35 cidades de 13 estados. Esse avanço foi sustentado por quatro aquisições, de março de2016 aabril de 2017. O último negócio foi a compra da gEpark, do Rio de Janeiro. "Investimos R$ 150 milhões desde que assumimos a Pare Bem", disse Cerdeira.
As maiores operações estão em aeroportos - como Confins, em Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba -, hospitais e shoppings. A companhia também opera Zona Azul em sete cidades, como Poços de Caldas (MG) e Atibaia (SP).
A Indigo, segunda maior rede no Brasil, prevê acelerar investimentos no país com a possível entrada de novos sócios na controladora, a holding francesa Infra Park. Os donos do grupo - os fundos Ardian e Predicta, do Crédit Agricole Assurances -, iniciaram em março um processo de busca de novos acionistas. "Devemos ter mais recursos. Nosso plano para o Brasil em 2017 é dobrar o faturamento", disse o diretor internacional da Indigo, Paul Valencia. Segundo ele, a rede tem R$ 150 milhões para investir no país até 2019.
A companhia, que entrou no mercado brasileiro por meio da compra da gaúcha Moving, em 2013, fechou 2016 com receita de R$ 300 milhões, ou 87,5% mais que em2015. Arede tem 180 estacionamentos no Brasil, ou 160 mil vagas em shoppings, hospitais, universidades e escritórios.
O Brasil é o terceiro maior mercado da Indigo no mundo - que está em 16 países com faturamento de € 860 milhões em 2016. "Nosso foco no Brasil são empresas regionais com mais de 50 estacionamentos", disse Valencia. "Também queremos usar o Brasil como plataforma para entrar em novos mercados, como Colômbia."
Apesar do rápido crescimento, Pare Bem e Indigo ainda estão longe da líder Estapar, que opera mil estacionamentos e 400 mil vagas, com faturamento de R$ 1,2 bilhão em 2016, 35% mais que em 2015.
"A meta é crescer 20% no faturamento e 50% na margem Ebtida, uma vez que a Estapar segue investindo em soluções de infraestrutura de estacionamentos e mobilidade urbana", disse o presidente da empresa, Andre Iasi. Segundo ele, o avanço vai ocorrer tanto por aquisições quanto por expansão orgânica. "Para isso, a Estapar conta com a estrutura de capital adequada", afirmou. Em2016, arede recebeu aporte de R$ 500 milhões do fundo Equity Internacional.
Neste segundo trimestre, a Estapar conclui a integração da mais recente aquisição, a BCA Brasil, especializada na desmobilização de frotas - cadeia de serviços que prepara para venda aqueles veículos que deixam de ser utilizados por companhias ou carros que são retomados por bancos de clientes inadimplentes. O plano do BTG é elevar a rentabilidade dos ativos da Estapar e usar parte dos seus mil estacionamentos como pontos de venda dos carros oferecidos por meio da Loop, novo nome da BCA.
Fonte: Valor Econômico - 30/05/2017