Para a cidade planejada, planeja-se o que não estava planejado: um estacionamento subterrâneo em parte do gramado da Esplanada que teria saídas para os prédios públicos.
"Só o estacionamento não resolve. O projeto de estacionamento se integra a todo sistema de transporte público do DF e já começou com a licitação dos novos sistemas de operações dos ônibus", explica Gustavo Ponce de Leon, secretário de governo do DF.
Um projeto para começar daqui, pelo menos, um ano e seis meses. Essa é a previsão. Até lá, como impedir que motoristas parem em lugar errado e sem nem se dar conta?
"Não tenho medo de multa, aqui não é proibido estacionar. É proibido? Não sabia, não tem placa. Se é, eu tenho medo de multa. Desculpa", diz Márcia Elisa, nutricionista.
Para atender servidores e visitantes na área que concentra a maior parte dos prédios públicos de Brasília, seriam necessárias pelo menos 15 mil vagas a mais. Lugar para parar o carro, só no fim do expediente, às 18h.
No imaginário da turista baiana, Brasília era bem diferente. Em todas as fotos, a frustração. Carros em frente aos monumentos, por todos os lados. Surpreende quem vem de fora e irrita quem vive na capital do país.
É carro demais, vagas de menos. "Se não chegar cedo, não acha", diz um senhor.
Mas o povo inventa e para no meio do caminho, em cima da calçada. "Atrapalha, costuma atrapalhar. Já vi acidente devido a esses carros parados nessa via lateral, atrapalhar a visão e outro entrar e se acidentar gravemente", afirma o taxista Alexandre Martins.
"É aquela velha história do transporte público, se houvesse transporte público de qualidade, a gente teria uma opção, não precisaria vir de carro", diz Rodrigo Oliveira.
Brasília é relativamente plana e fácil para os ciclistas, mas faltam ciclovias seguras. E o transporte coletivo é ineficiente. Mas será que a solução é criar um estacionamento? Não, e essa é a opinião de boa parte dos especialistas em planejamento urbano e engenharia de tráfico.
"Esse estacionamento é uma inversão de prioridades, porque aposta em um modelo que depende do uso do automóvel. O problema se resolve quando a gente tira o automóvel das áreas centrais da cidade. Nós temos que ter mobilidade universalizada, sem a necessidade de levar o carro para cada viagem que faz. A opção seria investir no transporte público e criar bolsões de estacionamento em áreas periféricas de Brasília, de modo que não precisa entupir de veículos nas áreas centrais e pontos turísticos", explica Paulo César Marques.
O estacionamento subterrâneo não vai ser construído com dinheiro público, e sim por meio de uma parceria público privada.
Fonte: programa Bom Dia Brasil (Rede Globo), 19 de outubro de 2012