Integrantes da 1ª Companhia do 8º Batalhão da Polícia Militar de Campinas começam neste final de semana uma operação pente-fino com o objetivo de identificar todos os flanelinhas que atuam no bairro Cambuí.
A PM quer saber qual é a situação pessoal de cada um deles e verificar se não há ninguém em dívida com a Justiça. A ação foi programada logo depois da denúncia feita ontem pela reportagem da Agência Anhangüera de Notícias (AAN) de que os flanelinhas criaram um esquema organizado para "lotear" todas as quadras e vagas de estacionamentos do bairro, criando dezenas de estacionamentos clandestinos naquela região da cidade.
Conforme foi constatado pela própria reportagem, em diversas ruas, o grupo cobra de R$ 5,00 a R$ 8,00 - muitas vezes, antecipadamente -, para que os motoristas possam parar em locais que, na verdade, são públicos.
Os flanelinhas não têm qualquer ligação com os bares e restaurantes do Cambuí e muito menos oferecem garantias contra roubos, furtos ou batidas aos veículos colocados em suas mãos. "A fiscalização em relação aos estacionamentos cabe à Prefeitura. Nós vamos fazer abordagens para verificar a situação dos flanelinhas. Se forem encontrados problemas, os envolvidos serão encaminhados ao plantão policial", confirmou o capitão Eduardo Luiz Tavares, comandante da 1 Companhia do 8 BPM. "Pretendemos entrar em contato com a Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas S.A.) para que seja realizada uma operação conjunta", acrescentou o policial.
A direção da Emdec, por sua vez, voltou a afirmar ontem que não tem como impedir a ação dos flanelinhas no Cambuí, mas apenas verificar se os veículos estão estacionados em locais irregulares e multá-los.
Com isso, mesmo com a ação de uma máfia, quem corre o risco de ser punido é o motorista que nem sequer sabe onde seu carro foi deixado. "É um problema sério que só vem aumentando com o passar do tempo. Na tentativa de resolvê-lo, já convidamos diversas vezes representantes da Emdec para participarem das nossas reuniões, mas ninguém nunca apareceu", lembrou Lúcia D Ottaviano, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Cambuí. "Hoje em dia, você não é mais capaz de estacionar no bairro se não der dinheiro aos flanelinhas. É um negócio lucrativo, eles simplesmente não te deixam parar se não colaborar. Eu mesmo conheço uma pessoa que teve o carro todo riscado por se negar a dar dinheiro", afirmou Lúcia.
Outro que luta para resolver a questão há muito tempo sem receber qualquer resposta das autoridades é o presidente da Sociedade Civil dos Amigos do Bairro Cambuí, José Renato Fernandes. "Aqui está tudo ao Deus dará. A hora que acontecer uma morte provocada por disputa por vagas para estacionar ou porque algum motorista não quis pagar o que o flanelinha pediu todas as autoridades vão aparecer. É uma pena que uma tragédia tenha que acontecer para que os responsáveis percebam o tamanho do problema", disse Fernandes.
Segundo o representante de bairro, cerca de 20 mil pessoas de outros locais circulam pelo Cambuí todas as noites de sextas-feiras ou sábados. A região conta com 400 pontos de alimentação e mais de 100 bares.
Sociedade
Além de blitze policiais ou de uma fiscalização mais eficaz da Prefeitura, o único meio de resolver o problema em definitivo depende apenas da população.
De acordo com investigadores do 13 Distrito Policial, localizado no Cambuí - que já fizeram um levantamento parcial dos flanelinhas do local e descobriram que 70% deles têm passagem pela polícia, principalmente por roubo -, a melhor saída para resolver a questão é uma sociedade mais ativa, que deve registrar boletins de ocorrência e reclamar oficialmente às autoridades quando for coagida, ameaçada ou até mesmo agredida nas ruas.
A frase
"Falta pulso firme por parte da fiscalização para controlar a ação desses flanelinhas."
José Renato Fernandes
Presidente da Sociedade Civil dos Amigos do Bairro Cambuí
Fiscais da Emdec sofrem agressões
Fazer o trabalho de fiscalização do trânsito nas ruas do bairro Cambuí durante a noite parece ser algo arriscado. De acordo com José Renato Fernandes, presidente da Sociedade Civil dos Amigos do Bairro Cambuí, e fontes ligadas à Secretaria Municipal de Segurança Pública, é comum que os fiscais apanhem nas ruas do bairro.
Muitas vezes, as agressões partem dos freqüentadores de bares e restaurantes, indignados por estarem sendo multados. Para evitar que fatos deste tipo aconteçam, a Emdec costuma solicitar a presença da Guarda Municipal para fazer a cobertura da ação.
Uma reunião marcada para ontem envolvendo a direção da Emdec e diversos donos de bares e restaurantes do Cambuí foi adiada para a próxima quarta-feira, dia 17. O encontro servirá para discutir as melhores soluções para disciplinar o serviço de estacionamento com manobristas no bairro, os valet park.
Fonte: Correio Popular (São Paulo), 12 de janeiro de 2007