Dois anos após o início da substituição de adolescentes por maiores na Zona Azul de Londrina, muitos usuários estão descontentes - e por vezes revoltados - com o serviço que arrecada mais de R$ 1,4 milhão por ano. Uma das reclamações mais freqüentes é a de que os orientadores nunca estão por perto quando os motoristas precisam.
Resultado: além de pagar pelas vagas do estacionamento público, os contribuintes acabam arcando com multas. A profissional de marketing Gleicy Ferreira, 28 anos, conta que ao deixar o carro em uma vaga da Zona Azul na Rua Piauí (Centro), há uma semana, não encontrou nenhum orientador - como é chamado o jovem que vende os cartões, cobra e orienta o motorista - nas redondezas.
Resolveu então seguir para seu compromisso e pagar na volta. Só que quando retornei, às 17h30, já não tinha mais ninguém trabalhando. Tive que ir até o escritório da Zona Azul para pagar a multa - que eles chamam de notificação - no valor de R$ 9,00, relata.
Segundo ela, o supervisor que a atendeu admitiu que o horário de saída dos orientadores era 17h45, mas disse que eles costumam mesmo sair às 17h30. Depois dessa lei que deixou os estacionamentos particulares mais caros, a procura pela Zona Azul aumentou e aí virou uma festa. Por que não contratam mais gente?, cobra.
Outra motorista, que prefere não se identificar, não se conforma com a multa salgada e a perda de três pontos na carteira que deverá sofrer por problemas com a Zona Azul. Ela também recebeu notificação por não ter efetuado o pagamento ao estacionar. Só que, passados dois dias úteis, os R$ 9,00 subiram para R$ 55,00. Naquele dia, um sábado, não achei uma alma viva para receber o dinheiro ou me dar informação. Já acho um roubo ter que pagar pra parar na rua, que é pública. Mas sujar minha carteira de habilitação por uma besteira dessas, aí é demais, desabafa.
A queixa do taxista Aparecido Luiz Moreira, 55 anos, é outra. Ele é um dos vários moradores do Centro que costumam deixar o carro na Zona Azul por falta de garagem no prédio. Usuários como ele, acredita, deveriam ter permissão para acertar o pagamento na saída. Nem sempre a gente sabe a hora exata em que vai sair, e não tem cabimento pagar por duas horas para ficar só meia. Só que a cada hora que vence os meninos (orientadores) ficam tocando o interfone do prédio para cobrar, ninguém mais tem tranqüilidade em casa, critica. Pior é que se aparecer um ladrão para roubar o carro, eles não fazem nada.
Para a coordenadora da Zona Azul, Camila Kauan Menezes, grande parte das reclamações se deve ao desconhecimento dos motoristas a respeito do serviço. O orientador está lá para facilitar o acesso ao cartão da Zona Azul, mas a responsabilidade é do motorista. O cartão é vendido em qualquer banca e pode ser deixado do lado de dentro do carro, indica.
Camila explica ainda que somente a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) poderia definir um tratamento diferenciado para moradores do Centro que estacionam na rua, mas frisa que os demais usuários provavelmente não iam gostar. Sobre o horário de saída, ela informou que apenas dois orientadores, remanescentes da turma de menores de 18 anos, terminam o expediente às 17h25. Os usuários podem ligar para nós sempre que tiverem alguma reclamação sobre o trabalho, oferece.
Epesmel tenta repor funcionários
O quadro de orientadores da Zona Azul está defasado em 20 funcionários, afirma a coordenadora do projeto, Camila Kauan Menezes. São 170 pessoas trabalhando nas ruas, quando deveria haver 190.
Segundo ela, a explicação é que muitos desses jovens trocaram o projeto por postos de trabalho no comércio, que sempre oferece mais oportunidades no final de ano. A rotatividade, que já é grande, se acentua na época de Natal. A Zona Azul é apenas uma porta de entrada para o ingresso dos jovens no mercado, explica.
Desde janeiro de 2005, o cargo de orientador é destinado a moças e rapazes de 18 a 24 anos. Por determinação da Procuradoria do Trabalho, o projeto foi proibido de contratar menores. Entretanto, como o desligamento foi gradativo, ainda há dois adolescentes trabalhando na Zona Azul.
Para suprir a falta de orientadores, a Escola Profissional e Social do Menor de Londrina (Epesmel) - responsável pelo projeto - está recebendo currículos e fazendo seleções (veja quadro). O treinamento para os recém-contratados dura apenas três dias. Será tempo suficiente, visto que muitos usuários reclamam do despreparo dos orientadores? O problema está mais na educação formal desses jovens do que no treinamento. Eles podem não saber matemática, mesmo estando na escola, argumenta Camila.
A coordenadora aponta que a juventude atual também não tem uma cultura do trabalho, o que leva muitos orientadores da Zona Azul a faltarem ao serviço e, conseqüentemente, contribuírem para a defasagem constante nas ruas. É por isso que damos três meses de experiência. Já tivemos que dispensar uma turma inteira de 12 jovens que não corresponderam às expectativas, cita. (V.N.)
Serviço:
Seleção de orientadores
Requisitos: Ter entre 18 e 24 anos
- Estar com as obrigações militares em dia
- Estar estudando em qualquer série ou ter concluído Ensino Médio
- Portar documentos pessoais
- Para entrega de currículos, informações, reclamações ou pagamento de notificação da Zona Azul - Rua Santa Catarina, 142, sala 12. Fone (43) 3322-5066
Fonte: Folha de Londrina (Paraná),10 de janeiro de 2007