Com a campanha eleitoral para a Prefeitura, volta à tona a questão do pedágio urbano, com posições contra e a favor. O principal objetivo da cobrança do pedágio numa área central da cidade tem por objetivo principal a redução da circulação de veículos nessa área. Uma das consequências favoráveis seria a redução da emissão de gases poluentes. Mas tais consequências seriam de curto prazo, devendo ser analisadas também as de médio prazo, com as tendências para o longo prazo.
Supõe-se que com o pedágio muitas pessoas que hoje vão trabalhar com o seu automóvel no centro deixarão de ir com o seu veículo, passando a utilizar o transporte coletivo, principalmente o metrô, que atende - razoavelmente bem - a região. Haveria - efetivamente - uma redução da circulação de automóveis.
Mas é preciso avaliar as consequências a médio prazo. O elevado custo de ingressar e circular na área fará com que os decisores da localização dos escritórios mudem o mesmo para outras áreas. A cidade de São Paulo está oferecendo muitas oportunidades de novos locais para escritórios. Muito mais caros que as salas do centro, mas com muito mais comodidades e infraestrutura. A mudança dos escritórios de atividades de alta renda promoverá uma degradação econômica do centro, com reflexos sobre a degradação física e social. Esse fenômeno não vai acontecer, mas já aconteceu, por conta das restrições anteriores e da oferta de novos polos, como a Avenida Paulista, Faria Lima e Berrini. Agora esse novo centro avança para a Chácara Santo Antônio.
Há, no entanto, uma hipótese que levaria à revitalização do centro, pela sua reelitização. O pedágio - diferentemente das medidas de restrições genéricas à circulação de automóveis, como foram feitas anteriormente - trata os motoristas de forma diferenciada: afasta os que não têm recursos para o seu pagamento durante todos os dias, e abre espaço para os que podem pagar. Esses são os decisores e os clientes de alta renda, sendo os mais relevantes os investidores financeiros. A permanência da Bolsa de Valores no Centro Tradicional poderia fazer com que as atividades ligadas a ela, como os bancos de investimentos, corretores, advogados e outros retornassem à sua vizinhança, revitalizando o centro de investimentos financeiros. Não é o mesmo centro financeiro de antigamente, que se baseava na sede dos bancos comerciais, então comandados por banqueiros, uma classe hoje praticamente extinta. Os remanescentes são banqueiros de investimentos, não mais "comerciais".
O pedágio teria um impacto forte sobre os estacionamentos. A redução da oferta poderia levar à redução de preços dos estacionamentos no centro e a uma elevação de preços nos seus limites. Essa compensação poderia anular o efeito do pedágio. O pedágio numa área fará com que haja um aumento de estacionamentos nas suas fímbrias, principalmente juntas ou próximas a estações de metrô. Num primeiro momento seus preços se elevam para se equiparar aos dos centros. Com o aumento da demanda tendem a ficar mais caros que os do centro e, para o motorista, entre pagar um estacionamento caro para pegar o metrô ou ir de carro para o centro pagando pedágio, mas estacionamento mais barato, a tendência é essa última. A disponibilidade e preços dos estacionamentos terão maior peso na decisão do motorista do que o pedágio urbano.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.