"É muito tempo. Chego em casa cansada. Não consigo fazer academia, ficar com os meus filhos." Ela trabalha na Berrini, principal centro empresarial da cidade, na zona oeste, e mora a 23 km dali, no Tatuapé, na zona leste.
Enquanto a vida corre, a executiva está parada no trânsito, o que, em São Paulo, a torna mais regra do que exceção: pesquisa do IBGE divulgada em abril aponta que, tal qual Sueli, um a cada quatro moradores da cidade perde entre uma e duas horas ao ir para o trabalho, de carro, ônibus ou metrô - sem contar o tempo da volta.
Há quem se adapte: Sueli decidiu ficar mais no escritório até passar o rush da tarde. Fernando Cardoso, relações públicas, usa as duas horas que passa no carro para estudar idiomas - já fez inglês e francês dessa maneira.
"Minha maior angústia é quando calculo o tempo perdido. Perco umas dez horas no trânsito por semana. São horas mortas, em que dava para fazer academia, um curso de aperfeiçoamento... é um tempo jogado no lixo."
Não há uma única explicação para o fenômeno. Crescimento desordenado da cidade (que deixa o trabalhador longe do emprego), mais carros na rua, aumento de passageiros no metrô... Tudo contribui para o caminho estar mais lento e a sensação de tempo perdido, maior.
Na última sexta-feira, 1º de junho, a cidade bateu recorde de congestionamento: 295 km.
Longe de casa
Exemplo extremo de morar longe é Ester Mucci, que perde seis horas todos os dias no trajeto casa-trabalho-casa, o que lhe permitiria ir ao Rio de ônibus - um pouco menos que as nove horas de jornada na agência de marketing em que é redatora. Ela perde 50 dias do ano - mora na Cidade Tiradentes, extremo leste, e trabalha a 50 km, em Santo Amaro, zona sul.
Para isso, pega ônibus, trólebus, trem, metrô, ônibus de novo e anda. Pelo caminho, lê livros, ouve música e, ultimamente, estuda inglês.
Fonte: Folha de S. Paulo, 3 de junho de 2012