Só no fim deste ano serão conhecidos os resultados oficiais de consumo energético dos fabricantes de veículos no Brasil, mas já é possível afirmar que as metas de eficiência energética e em decorrência delas o desenvolvimento de carros mais eficientes no País são a melhor notícia e o maior legado do Inovar-Auto, programa de incentivo à indústria automotiva lançado pelo governo em 2012 que termina em dezembro próximo. Segundo recente levantamento da Bright Consulting, ao qual Automotive Business teve acesso, a análise da frota vendida no mercado brasileiro entre outubro de 2016 e abril de 2017, pouco mais de 1 milhão de veículos leves (sem contar modelos diesel), aponta gasto médio de energia de 1,75 megajoule por quilômetro (MJ/km) e emissões de131,73 gramasde CO2/km. O nível é próximo dos vistos na Europa e representa notável evolução de 15,46% sobre a média de 2,07 MJ/km medida em 2011, ponto de referência para os objetivos de melhoria estipulados pelo Inovar-Auto.
Ou seja, a média alcançada nos últimos sete meses já supera em 3,38 pontos a evolução mínima de 12,08% fixada pela legislação – quem não atingir até outubro próximo este porcentual pode ser punido com multas milionárias. De acordo com as regras do Inovar-Auto, o aumento médio de eficiência energética atingido agora pela maioria das marcas está pouco além da meta-prêmio de 14,97%, o que livra de punições e ainda garante às montadoras benefício fiscal de um ponto porcentual de desconto no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) – quem atingir melhoria superior a 20,77% sobre a medição de 2011 ganha dois pontos de abatimento. A redução da carga tributária em um ou dois pontos é válida por quatro anos, até 2021, com auditorias anuais.
Maioria supera meta
Apesar de toda a pressão exercida pelas montadoras instaladas no País na época em que o Inovar-Auto estava sendo elaborado, em favor de padrões menos apertados, os resultados medidos pela Bright nos últimos sete meses mostram que a maioria das fabricantes conseguiu com certa facilidade atingir e superar as metas de eficiência energética. Contudo, esses números são ainda parciais, pois as empresas têm até setembro próximo para fazer a medição que vai valer como aferição oficial para enquadramento na legislação. Para isso não adianta apenas ter alguns veículos eficientes na lista de produtos, é preciso também que eles sejam vendidos em quantidade suficiente para puxar para baixo a média geral de consumo da montadora; assim é calculado o índice de cada fabricante. Aqueles que não estão enquadrados poderão ainda adotar medidas para evitar as multas – e outras que atingiram objetivos poderão eventualmente melhorar seus índices para obter desconto tributário maior.
A Bright prefere não revelar agora os resultados particulares por marca, pois ainda são parciais e podem mudar bastante até a medição oficial de setembro próximo. Isso porque, até lá, é possível introduzir tecnologias para redução do consumo. As montadoras também podem simplesmente retirar do mercado ou diminuir a venda dos modelos abaixo da meta, para assim mitigar o impacto desses carros na sua média, ou ainda fazer promoções para vender os mais eficientes, por exemplo, e assim empurrar o índice para o nível desejado. Por causa dessa fórmula para calcular a média de eficiência, os fabricantes introduziram a maioria das tecnologias de redução de consumo somente nos modelos mais vendidos.
Ford, Audi e Nissan gozam do abatimento de um ponto no IPI desde o início de 2017, porque conforme previa a legislação fizeram a medição de seus carros um ano antes do exigido e conseguiram antecipar o benefício fiscal (leia aqui).
A Bright desenvolveu um serviço independente de monitoramento do nível de eficiência energética dos carros vendidos no mercado brasileiro – por isso foi possível antecipar resultados antes da medição oficial. De acordo com Paulo Cardamone, sócio-diretor responsável pela estratégia da consultoria, o sistema foi desenvolvido seguindo as regras estipuladas pelo Inovar-Auto, com uso de ferramentas de big data, data fusion e inteligência arti?cial. Isso porque milhões de dados precisam ser cruzados. Na conta entraram o volume de vendas de cada modelo e versão de veículo leve no período outubro/2016-abril/2017 (1,026 milhão de unidades com motorização gasolina ou flex), os pesos oficiais divulgados pelas montadoras e os dados de consumo de cada versão na lista mais recente do Inmetro/Conpet, de outubro passado.
Com os dados liberados pela Bright, já é possível ter uma boa ideia do cenário futuro próximo. A consultoria dividiu as montadoras em grupos por nacionalidade e separou também as quatro grandes do mercado brasileiro, as Big Four GM, Fiat, Volkswagen e Ford, que costumam dominar as quatro primeiras posições do ranking das marcas mais vendidas no País. No gráfico abaixo, verifica-se que, com exceção das marcas chinesas, todas as outras analisadas conseguiram atingir a meta mínima de redução de 12% (linha laranja), sendo que a maioria supera o objetivo habilitando-se a ganhar um ponto de desconto no IPI. Em meio a essas, existem algumas que podem obter os dois pontos.
Fonte: revista Automotive Business, 03/08/2017