Segundo Roberto Kochen, diretor do Departamento de Engenharia Civil do Instituto de Engenharia, que participou entre 1993 e 2002 da elaboração dos projetos da Linha 4 do Metrô, há vários bairros onde o solo é delicado, como Brooklin, Campo Belo, Pinheiros, e, como São Paulo não tem mapas do subsolo, as empresas precisam fazer prospecções de terreno minuciosas. Ele acrescenta que a Prefeitura analisa e aprova apenas a planta e o projeto arquitetônico de novos empreendimentos. Mas não há lei que contemple garagens ou qualquer coisa que esteja abaixo do solo.
De olho nessa legislação que não computa obras sob a superfície como área construída, as construtoras fazem subsolos cada vez maiores e, muitas vezes, atingem o lençol freático (que se origina da água da chuva, rios ou lagos que se infiltram no solo, ocupando seus espaços porosos). "Para realizar as construções, tira-se essa água com a ajuda de bombas", explica o engenheiro. "Por causa da drenagem, o lençol freático diminui e o solo pode se acomodar. É um recalque normal. Só que é um recalque que não pode ser além do esperado."
Se as construtoras enfrentam problemas com o subterrâneo, a Prefeitura também pena para descobrir o que há debaixo dos seus próprios domínios. No emaranhado de fios e canos que convivem sob as calçadas da cidade, estima-se que exista algo em torno 100 mil km de redes de infra-estrutura urbana de mais de 30 empresas prestadoras de serviços - como redes de esgoto, energia elétrica, gás, telefonia, telecomunicações e televisão a cabo. O problema é que a cidade não tem um mapa do seu subsolo, muito menos um sistema para prevenir acidente.
A confusão de fios é tamanha que a Secretaria Municipal de Infra-Estrutura Urbana e Obras, por meio do Departamento de Controle de Uso das Vias Públicas (Convias), que o governo municipal assinará uma parceria com uma empresa de consultoria sediada nos Estados Unidos para criar uma política de gerenciamento - o contrato, no valor de US$ 150 mil, dará à Prefeitura a "receita do bolo" para montar um mapa unificado do subsolo de São Paulo. "Não pagaremos um centavo, porque temos a verba de uma agência internacional de fomento ao desenvolvimento", garante Ruy Villani, arquiteto e diretor da Convias.
Atualmente, Villani já está recebendo o mapeamento das concessionárias para começar a criar um banco de dados único. O projeto é construir uma espécie de central de call center para concentrar em um único local todas as plantas das redes.
A idéia da Prefeitura também é faturar com o decreto 38.139/99, que normatiza e estipula a cobrança do uso do subsolo da cidade. Segundo estudo da Secretaria Municipal de Finanças, a cidade poderia embolsar cerca de R$ 200 milhões por ano pelo aluguel do espaço subterrâneo às empresas concessionárias.
Já o promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo José Carlos de Freitas, desde que começou a receber grande número de reclamações de moradores que tiveram suas casas trincadas pela construção de prédios, estuda a melhor maneira de forçar a Câmara Municipal de São Paulo a prestar atenção no problema e debater uma solução.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 25 de maio de 2008