A ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos - www.antp.org.br ) atualizou o estudo comparativo dos custos de movimentação para um percurso básico de 7 km, entre ônibus, moto e automóvel, para as capitais e mais 16 cidades com mais de 500 mil habitantes.
No Nordeste, as tarifas de ônibus são mais baratas, com média de R$ 1,74, com São Luiz cobrando a mais baixa, R$ 1,70. O Sul é o que tem as tarifas de ônibus mais elevadas, com média de R$ 2,17, puxado por Florianópolis, que tem a maior, R$ 2,60. O Sudeste tem a segunda maior média, R$ 2,11, com várias cidades, inclusive São Paulo, com tarifa de R$ 2,30. O que chama atenção no estudo é o menor custo relativo das viagens por moto. Na média para o Brasil, o custo é estimado em R$ 0,71, representando 31% do custo da tarifa de ônibus. Esse custo não inclui a remuneração do investimento (que é explicitado como valor das prestações), mas de toda forma pode explicar porque muitos usuários de ônibus estão se transferindo para a moto. As viagens por essa modalidade crescem rapidamente, gerando novos problemas no trânsito, principalmente os acidentes.
As facilidades de financiamento para a compra de motos, provavelmente, têm maior impacto sobre o trânsito do que os dos automóveis. Não deixando de considerar que dos tais 6 milhões da frota de veículos na cidade de São Paulo cerca de 700 mil são motos.
Para o cálculo do custo das viagens por automóveis, além de um custo quilométrico baseado num rendimento de 0,14 l/km foram acrescidos custos estimados para estacionamento e congestionamento.
Para os estacionamentos foi considerado, em geral, R$ 0,25, levando em conta que 5% das viagens pagariam R$ 5,00 por deslocamento. Para São Paulo e Rio de Janeiro o primeiro valor passou para R$ 1,25, com 25% das viagens pagando R$ 5,00 por deslocamento.
O custo adicional de congestionamentos considerado é apenas do consumo adicional de combustíveis, sendo de 25% a mais para São Paulo, 15% para o Rio de Janeiro e 10% para Salvador, Brasília, Fortaleza e Belo Horizonte.
Embora sujeito a críticas, como toda e qualquer estatística que "pasteuriza" as diferenças pelas médias, o estudo é altamente significativo para o comparativo entre as diversas cidades.
Evidentemente, São Paulo e Rio de Janeiro lideram os custos da viagem de automóvel, o primeiro com R$ 4,17 e o segundo com R$ 4,07 inflacionados pelos custos do estacionamento e dos congestionamentos. Com exceção de Rio Branco, com R$ 3,13, em função do custo do combustível, nenhuma outra cidade fica acima de R$ 3,00 sem os adicionais de estacionamento e de congestionamento.
O estudo da ANTP avalia ainda a relação dos custos com o do ônibus (= 1). Em São Paulo essa relação é de 1,81 para o carro em relação ao ônibus. Mas é superado pelo Rio de Janeiro, com um índice de 1,94, em função de uma tarifa de ônibus um pouco menor (R$ 2,10).
A maior relação ocorre em Fortaleza (2,13) pela redução da base (R$ 1,60 na tarifa de ônibus) e os acréscimos de estacionamento e de congestionamentos, seguida por Belém do Pará (1,92), mesmo sem os acréscimos de congestionamento.
Um estudo mais aprofundado precisaria considerar as diferenças entre os horários e os tempos de permanência no destino. E também os custos do investimento (compra e financiamento do carro) comparativamente ao uso do táxi.
Em São Paulo, para a mesma viagem padrão de 7 km, o custo do táxi seria de R$ 18,20, sem congestionamentos. Na prática, ficaria pouco acima de R$ 20,00, em função das paradas nos semáforos. Com congestionamentos, com um tempo adicional de 30 minutos a corrida passaria para R$ 32,00. Isso porque há o custo adicional da chamada "hora parada" que é a que mais corre. É de R$ 28,00 a hora e é cobrado sempre que o veículo está com velocidade inferior a 20 km.
O custo adicional decorrente dos congestionamentos, no caso dos automóveis, depende da rota e dos horários. Um deslocamento fora dos corredores estruturais ou das vias monitoradas pela CET (onde ocorrem os maiores congestionamentos) torna as viagens menos onerosas. As viagens, mesmo nos corredores, fora dos picos (que são cada vez mais raros) pode ser menos onerosa, dependendo do que se faz nas horas de espera.
A variável estacionamento é a que mais diferenciação apresenta. No padrão considerado de 7 km, com uma permanência no destino por meia hora ou até uma hora, o valor médio de R$ 5,00 é razoável. Mas depende do local de destino. Em algumas áreas, a média seria menor, da ordem de R$ 3,50. Em áreas de maior demanda, esse valor não seria menor que R$ 7,00.
Se a viagem é feita a trabalho, com permanência o dia todo, a média por dia útil de um mensalista variaria entre R$ 4,00 a R$ 6,00. O valor médio de R$ 5,00 estaria na média da média.
Se a viagem de automóvel custa muito mais que a de ônibus, por que então usá-lo? Onde está a racionalidade econômica?
Uma primeira e principal razão é que o automóvel propicia a viagem "porta a porta". Saindo da garagem da moradia e voltando a ela. No destino podendo chegar diretamente no próprio local, como nos estacionamentos dos edifícios de escritórios ou na fábrica, ou próximos a essa.
Na viagem por ônibus é preciso ir até o ponto, em geral a pé (com deslocamento no sentido contrário, na volta) e para chegar ao destino pode ser necessário um transbordo. E ainda andar a pé do ponto de descida até o destino.
É uma incomodidade, à qual se soma a espera pelo ônibus, a pouca disponibilidade de lugares sentados e a falta de espaço em pé, nas horas de pico.
Aqueles que apontam a preferência pelo transporte coletivo, como solução para o trânsito de São Paulo, provavelmente não andam de ônibus.
Porque, se fossem usuários constantes dos ônibus, perceberiam que essa não é uma opção. Mas quase uma falta de opção.
Por isso, com a melhoria de renda da população aumenta o uso de carros e de motocicletas em detrimento do ônibus.
E haja estacionamento para abrigar toda essa frota. E mais vias.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.