Sua construção deverá estar concluída até o fim de 2016, coincidindo com o término do mandato de Haddad. Um projeto-piloto, de 1,6 km, está sendo construído entre o Largo do Paiçandu e a Estação Júlio Prestes, na região central. Vias importantes como a Avenida Paulista - no canteiro central - e as Ruas Vergueiro e Domingos de Moraes estão entre as que receberão as ciclovias.
"Vamos tirar vagas dos carros para uma ocupação do espaço público pelas bicicletas. É evidente que há sempre o conflito com o estacionamento do carro. Talvez por isso até hoje não foram implementadas ciclovias na cidade", afirmou Tatto. Está implícito aí que os governos anteriores - o de Marta Suplicy também, do qual ele participou? - não tiveram como o atual a clarividência de perceber a importância das ciclovias para o correto aproveitamento do espaço público e a determinação para dar consequência prática a isso.
Além de terem sido agraciados pela rara capacidade de tratar mais adequadamente que os outros administradores o espaço público e pelo privilégio de fazer "descobertas" importantes, como a de que o transporte coletivo deve ter prioridade numa cidade como São Paulo, Haddad e Tatto demonstram ainda possuir agudo senso prático, que lhes permite escolher soluções ao mesmo tempo baratas e de grande alcance.
Para que esperar a conclusão dos 150 km de corredores projetados até 2016, cujo custo médio é estimado em R$ 29 milhões por quilômetro, se as faixas são muito mais baratas - R$ 50 mil por quilômetro? Em um ano, inundou-se a cidade de faixas - 300 km, quando a previsão era de 150 km até o fim do governo. Com as ciclovias não será diferente - a R$ 200 mil por quilômetro, elas sairão por R$ 80 milhões.
Por um preço relativamente baixo, o atual governo mexe na estrutura viária da cidade de forma improvisada, sem planejamento e com muita demagogia. Uma irresponsabilidade. Consertar tudo isso não será fácil nem barato. Supondo, só para argumentar, que as ciclovias anunciadas fossem necessárias - o que é no mínimo duvidoso -, onde estão os estudos técnicos consistentes que as justificariam? Ou Haddad pensa construir 400 km delas, assim, sem dar maior satisfação ao distinto público, eliminando 40 mil vagas de estacionamento, numa cidade que carece delas?
Tanto a cidade carece que o próprio Haddad abriu licitação para a construção de três garagens subterrâneas, no Mercado Municipal e nas Praças Fernando Costa e Roosevelt.
É fácil encher o peito e, demagogicamente, iniciar uma cruzada contra os carros. Difícil é responder o que se fará com os milhões de pessoas que os utilizam diariamente - estima-se que os carros são responsáveis por um terço dos deslocamentos. Proclamar a prioridade ao transporte coletivo - que ninguém contesta - não basta. É preciso melhorá-lo de fato, para servir de alternativa aos carros.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 15 de junho de 2014