Parking News

Por Jorge Hori *

O prefeito de São Paulo, picado pelo mosquito transmissor do vírus da bicicleta, quer implantar ciclovias no lugar de 40.000 vagas de estacionamento. Ou ele é um fervoroso adepto do ciclismo como meio de transporte pessoal, como é, por exemplo, o vereador Police Neto, que defende a causa como um praticante, ou ele acha que os ciclistas são importantes eleitores. Ele tenta dizer que não é nada disso: seria uma visão de estadista, voltada para um futuro de longo prazo.
Tirar 40 mil vagas, incluindo muitas de Zona Azul, não é na periferia onde não há movimento, nem conflitos. Seria justamente nas áreas onde há maior demanda de destino das pessoas, seja para trabalho ou para compras. As vagas na via pública são essenciais para manter o dinamismo do comércio de rua.
O seu objetivo, pelos seus discursos, não é favorecer os ciclistas, mas criar mais dificuldades aos motoristas, para que eles desistam de usar o carro.
A teoria da conspiração diria que ele está mancomunado com os donos dos estacionamentos privados, que ganhariam uma demanda adicional que, diante das restrições de oferta - provocadas pela própria Prefeitura - determinaria uma elevação adicional dos preços. O que, efetivamente, não interessa aos operadores.
Em defesa da sua ideia, usa o exemplo de cidades europeias onde há um grande volume de ciclistas e de ciclovias. Seria para ele um exemplo de modernidade e de civilização. Pode ser do ponto de vista cultural, mas não econômico. A maioria dessas cidades está em decadência econômica.
Por outro lado, as cidades com maior nível de crescimento econômico, como são as chinesas, estão substituindo a bicicleta, o mais tradicional e amplo modo de deslocamento das pessoas, pelo carro, gerando enormes congestionamentos. Shangai, e não Amsterdã, é o modelo atual de modernidade urbana. Dizer que os chineses estão retrocedendo quando abandonam a bicicleta para adotar o carro é uma contradição com o avanço de uma economia prestes a se tornar a primeira do mundo.
Exemplos externos, para justificar propostas como soluções mais modernas, cada qual usa como quer.
A questão maior é: o que acontecerá com a cidade, se a proposta do prefeito vingar?
O cenário - correspondente ao desejado pelo prefeito - seria da substituição pelas pessoas do carro pela bicicleta. Primeiramente, as pessoas procurariam morar perto do local de trabalho, das compras, dos restaurantes, do lazer. Para as atividades mais distantes usariam o transporte coletivo.
Com isso se desenvolveriam polos com imóveis de uso misto, sendo Moema um caso típico. Nesse bairro há residências, lojas comerciais, restaurantes, agora começam a aumentar os escritórios e estará servida por uma linha de metrô. Moema poderia ser o paradigma do projeto de Haddad.
Dentro desse paradigma, o essencial é que as opções sejam feitas pelos empregadores, que se manteriam ou se mudariam para o bairro, utilizando-se da bicicleta, sem o uso do carro. Os empregados sem maiores opções adotariam também a bicicleta. Igualmente os clientes das lojas, restaurantes, academias de ginástica, escolas, postos de saúde e outros serviços buscariam se deslocar de bicicleta, aproveitando as facilidades das ciclovias criadas pela prefeitura.
O cenário oposto é que os empregadores não trocariam o carro pela "magrela", mudando-se do local, em busca de outras áreas onde possam chegar e estacionar o seu carro. Se não encontrarem tais condições no Município de São Paulo, se mudariam para municípios vizinhos ou até mais distantes. O mesmo fariam os clientes das lojas, restaurantes e serviços.
A área deixaria de ter grandes congestionamentos, porque a demanda diminuiria consideravelmente. Os ciclistas poderiam pedalar tranquilamente nas ciclovias, sem enfrentar a concorrência dos carros. A poluição do ar cairia, com os moradores ou frequentadores vivendo num ambiente melhor. Só lhes faltaria emprego e, consequentemente, renda.
Engrossariam as fileiras do MCSE: movimento dos ciclistas sem emprego.
Essa é a percepção que um candidato a estadista deve ter para não torná-la uma realidade, comprometendo o futuro da cidade.


* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.

Categoria: Fique por Dentro


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