Plante uma semente, regue com dedicação e deixe que ela crie raízes. Se fizer disso uma ação prioritária de sua empresa, pode ter certeza: seus negócios florescerão.
Acredite, não é discurso de ecologista. É uma orientação objetiva e valiosa, pela qual alguns "gurus dos negócios" cobram fortunas.
Nós, da DINHEIRO, resolvemos lhe dar a dica. Executivos das maiores e mais diversas corporações mundiais aderiram ao pensamento, incorporaram-no no seu dia-a-dia e, hoje, percebem o acerto da decisão.
Ser "verde", desenvolver políticas de sustentabilidade que incluem projetos de responsabilidade socioambiental virou a nova lei de sobrevivência no mercado.
E aquele que restringe o impacto de seu negócio aos resultados financeiros de cada fim de mês está fadado ao desaparecimento. Pelo menos, é o que sentenciam os analistas. "Se quiserem ter mercados futuros, as empresas precisam cuidar do presente. Quem não compreender isso desde já, ficará no meio do caminho", afirma João Paulo Altenfelder, consultor em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. "Em alguns setores, o investimento na agenda de sustentabilidade é necessário até do ponto de vista da continuidade da produção, porque as matérias-primas não são renováveis e já passamos da linha amarela da exploração".
"Reflorestamento é outra grande bandeira do grupo".
Lá fora, gigantes do mercado estão bastante afinados com esse "paradigma do bem". A japonesa Toyota, segunda maior montadora do mundo, mobiliza um exército de funcionários no desenvolvimento de tecnologias para melhorar a eficiência dos combustíveis, reduzir as emissões de gás carbônico e limitar a dependência do petróleo.
O guia de princípios da empresa, apresentado ao quadro de 285 mil empregados, defende a coexistência harmônica entre meio ambiente e economia. "Os automóveis terão um papel-chave na criação do transporte sustentável no século 21 e a missão da Toyota será fornecer veículos que os clientes possam usar com orgulho e alegria", diz Katsuaki Watanabe, presidente do grupo, em mensagem no site corporativo.
A anglo-holandesa Unilever, gigante no setor de alimentação, é "verde" à sua própria maneira. A matriz investe em programas de agricultura, pesca e uso sustentável de água, nos quais são criados mecanismos para melhor compreender os efeitos que o grupo provoca no meio ambiente.
Já a Philips, líder mundial em iluminação e campeã no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, inventou e já comercializa uma nova geração de lâmpadas compactas que economizam 80% a mais de energia e geram menos calor que as convencionais. "A necessidade de reduzir o aquecimento global controlando as emissões humanas de carbono é provavelmente a questão mais importante que enfrentamos como comunidade global. Então, o gerenciamento de energia também precisa ser o maior desafio dos CEOs na era moderna", discursou o presidente da Philips Gerard Kleisterlee, em visita recente ao Brasil.
Por que as empresas investem nesses programas? O que explica a similaridade entre os discursos? Não é conveniência, nem oportunismo. É visão estratégica.
Os executivos compreenderam que existe uma relação de interdependência entre todos os atos de produção, o consumo e o que ocorre na sociedade e na natureza.
Por conta dessa percepção, investir em sustentabilidade virou mais do que fazer dinheiro com o aval moral dos consumidores: tornou-se uma forma de prevenção contra gastos.
De acordo com Fernando Nabais Furriela, advogado especializado em Direito Ambiental e ex-presidente do Conselho Executivo do Greenpeace Brasil, a economia para as corporações tem se verificado principalmente no plano da legislação ambiental. "Ser sustentável minimiza os riscos de responsabilização por danos à natureza.
Os órgãos estão cada vez mais vigilantes e as condenações podem ser bem caras", aponta. No mundo atual, corporações que criam os chamados passivos ocultos, como a emissão de poluentes e a produção de resíduos, além de enfrentar dificuldades de prosperar no médio e longo prazos, podem ter prejudicados processos de fusões, aquisições, ou até mesmo de compra por outro grupo.
É que, apesar de não aparecerem nos balanços, esses passivos são revelados em auditorias e acabam descontados do valor das empresas. "O investidor cobra boa governança. Como as empresas são responsáveis pelo gerenciamento dos recursos, a qualidade da decisão de alocação desses recursos está intimamente ligada à prosperidade dos grupos", explica Ricardo Young, do Instituto Ethos, uma ONG que mobiliza corporações a ser socialmente responsáveis.
PROJETOS
Florestas da Faber Castell, fazenda ecológica da Unilever e cadeias produtivas sustentáveis da Odebrechet (à direita). A responsabilidade socioambiental melhora a imagem das companhias e atrai o interesse do consumidor.
A boa notícia é que os grupos brasileiros e os que aqui operam são uma referência forte no quesito responsabilidade. O Bradesco, por exemplo, atua de diversas formas para contribuir contra o aquecimento global.
Incorporou análises de riscos sócio-ambientais nas operações de financiamento e assessora projetos econômicos com base no Protocolo de Kyoto.
Na região de Cidade de Deus, na grande São Paulo, onde o volume de gás carbônico chega a 22,3 mil toneladas por ano, o banco plantará cerca de 37 mil árvores da Mata Atlântica e a meta é estender o programa a todas as localidades onde a instituição possui agências. "O mercado e os próprios consumidores não aceitam uma postura passiva. Fomos o primeiro banco brasileiro a iniciar um programa para neutralizar as emissões de carbono de suas operações", orgulha-se Márcio Cypriano, presidente. "Quase todo o papel utilizado pelo Bradesco (hoje, próximo a 600 toneladas por mês) é reciclado, inclusive talões de cheques e memorandos internos. Somos a empresa brasileira que mais utiliza papel reciclado", continua.
Grupos como a Usiminas não ficam atrás. Por meio do Programa Áreas Verdes, a siderúrgica realiza ações para recompor a vegetação nativa em áreas degradadas pela ocupação humana. A iniciativa inclui a produção de 200 mil mudas ao ano, a manutenção de um parque zoobotânico e a recuperação de matas ciliares.
Outra que seguiu nessa linha foi a Faber-Castell. No Brasil há 75 anos, a empresa alemã é a maior fabricante de lápis do mundo e, dentro do grupo, a divisão brasileira é o carro-chefe, com a produção anual de 7 milhões de unidade por dia.
Para sustentar essa demanda alta por madeira, a Faber mantém projetos como o Arboris e o Animalis, que valorizam a flora regional e monitoram a fauna presente em todos os parques florestais da empresa.
Aracruz e Suzano, que atuam no setor de papel e celulose, plantam eucaliptos em programas de fomento de madeira. Detalhe: produzem elas próprias toda a madeira de que precisam para operar, sem danificar a natureza.
TOYOTA
Nas concessionárias do Japão, ordem para usar iluminação natural.
Isso diz muito ao público. Pesquisa do Instituto Akatu, organização que estimula o consumo consciente, mostra que 34% dos brasileiros têm percepção sobre a responsabilidade sócio-ambiental das empresas e levam isso em conta na hora de comprar.
Ou seja, cobram delas, além do papel de produzir, gerar divisas e criar empregos, contribuições ativas para o desenvolvimento responsável da sociedade. "Os consumidores vêem as corporações como agentes sociais e não apenas agentes de produção, e as punem por atos de irresponsabilidade ambiental, seja deixando de comprar os produtos, seja falando mal das empresas aos familiares e amigos", aponta Hélio Mattar, diretor-presidente do Akatu.
A preocupação em atender a essas expectativas mostra outra face interessante das corporações verdes: o aprimoramento tecnológico, com o intuito de diminuir os impactos à natureza. Os grupos cada vez mais internalizam custos que, antes, eram jogados na sociedade.
Com isso, ganham eficiência e criam produtos sustentáveis. "As empresas passarão por um processo profundo de inovação tecnológica nos próximos 10 ou 15 anos", prevê Mário Monzoni, professor do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (CES-FGV).
"Será um novo tipo de revolução industrial".
Essas mudanças estão em andamento na AmBev há pelo menos uma década. O grupo, que fabrica bebidas, não apenas combate o desperdício de água, como possui em suas fábricas avançadas estações de tratamento, de onde o recurso retorna limpo e - segundo eles - melhorado à natureza. A própria necessidade de captação vem caindo.
Em 2001, a quantidade de água usada pela AmBev para produzir um litro de bebida era de 5,62 litros de água/litro de cerveja. Em 2006, o índice geral caiu para 4,30 litros de água/litro de cerveja, uma redução de 23,5%.
Só nos últimos três anos, a economia de água verificada em todas as unidades da Ambev corresponde ao abastecimento de uma população de 920 mil habitantes durante um mês. Mas não adianta apenas fazer, dizem os especialistas. "É preciso disseminar esses conceitos nas escolas, universidades e comunidades, formando toda uma nova geração capacitada a lidar com a complexidade de um mundo em transformação", diz Young.
Tarefa que o empresário baiano Norberto Odebrecht tomou para si quando criou a sua fundação. Em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia, o Governo Federal, o Governo do Estado da Bahia e a Associação dos Municípios locais, a Fundação Odebrecht criou o Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia (DIS Baixo Sul), que, entre outras coisas, promove educação rural, incentiva a geração de trabalho com conservação ambiental.
No projeto Casa Familiar Agroflorestal, por exemplo, tecnologias produtivas e de preservação são passadas para jovens. "Esses projetos todos mostram que a sustentabilidade é algo que veio para ficar. É diferente de ação social", diz Altenfelder. "É questão de responsabilidade".
Fonte: Revista Istoé Dinheiro (São Paulo), 25 de abril de 2007