Reportagem de capa da Veja São Paulo (17/02/2010), sobre o valor cobrado pelos estacionamentos, nos leva a refletir sobre o que determina o mesmo e qual a elasticidade. Ou seja, a variação da demanda em função de aumentos ou decréscimos nos preços.
Já comentamos aqui que estacionamento de destino não é demanda primária. Ninguém tem como objetivo principal buscar um estacionamento ou uma vaga em via pública. O seu objetivo de destino é o local de trabalho, de educação, uma necessidade de saúde, de uma compra, de uma visita etc.
Ao optar por ir ao destino de automóvel, precisa de um local para estacionar o seu veículo, próximo ao seu destino.
A concorrência para o mesmo destino num mesmo horário determina os valores do estacionamento. É o caso dos teatros que, nos horários dos espetáculos, elevam o preço dos estacionamentos, chegando a R$ 35,00 o período, para os mais próximos. Estacionamentos mais distantes têm preços menores, até encontrar estacionamentos abertos, sem cobrança especial.
O que influi nesses valores, além da demanda, é o fator segurança. Os espectadores não querem correr o risco de furtos, assaltos e outros inconvenientes na saída às altas horas.
Em locais de eventos que têm uma demanda pontual, igualmente os preços são ajustados à procura.
Nos pólos de entretenimento noturno, como a Vila Madalena, Vila Olímpia e outros, os valores sobem e tendem a se uniformizar. Não pela formação de cartéis, mas do mimetismo que comanda o mercado.
Nesse caso funciona a elasticidade, conduzindo a essa uniformização de preços. Se um determinado estacionamento, por ter uma demanda maior, sobe o seu preço, tende a perder para os vizinhos, com preços menores, sendo obrigado a equalizar o seu. Na forma contrária, uma eventual promoção e redução de preços pode levar a uma demanda excessiva que não lhe permite manter os preços. Além de outros fatores.
Pergunta-se sempre: quanto o usuário está disposto a caminhar a pé, para utilizar um estacionamento mais distante do seu destino, para pagar um pouco menos?
Se o usuário é habitual, pagando mensalidade, pode se dispor a andar um pouco mais, porque a diferença de valores pode ser significativa. Se for avulso e eventual, não. A não ser que, apesar de avulso, frequente o mesmo destino várias vezes ao mês, conhecendo bem as opções da região.
A baixa elasticidade demanda-preço decorre desse comportamento acomodativo do usuário que pouco quer andar entre o local do estacionamento do veículo e o seu destino.
Esse mesmo comportamento pode explicar porque o usuário, apesar de achar caro o estacionamento, vai de automóvel ao seu destino, em vez de utilizar o transporte coletivo.
No caso, há uma explicação adicional: a qualidade do transporte coletivo é muito ruim.
Ou seja, os preços dos estacionamentos poderiam ser um inibidor da utilização do automóvel e promover a desejada (pelos urbanistas e transporteiros) transferência para o transporte coletivo, mas isso não ocorre dada a má qualidade desse serviço.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.