Longa pesquisa feita pelo Ibope sobre a percepção dos paulistanos sobre a cidade de São Paulo mostra visões contraditórias.
Há muitas reclamações pontuais, mas no geral o paulistano acha que a cidade de São Paulo é um lugar ótimo (18%) e bom (46%) para se viver, somando, portanto, 64% dos que estão satisfeitos, contra 4% que acham ruim e 5% péssimo. Na diferença entre os satisfeitos e insatisfeitos o indicador é de 55%, com 25% dos que acham apenas regular.
Considerando os outros itens da pesquisa, provavelmente vários fatores favoráveis não foram considerados, como as facilidades e diversidades de compras ou de lazer, oportunidades de trabalho etc.
A segmentação mostra que as mulheres (65% de ótimo e bom) estão mais satisfeitas que os homens (63%), os que têm idade entre 30 a 39 anos são os mais satisfeitos (71%) e com escolaridade até a 4ª série do fundamental, os com maior índice (69%). Os moradores da cidade das classes A/B (65%) estão mais satisfeitos que os das classes D/E (64%), sendo o menor índice o da classe C (63%). Estatisticamente estão empatados.
Do ponto de vista territorial, os do Centro são os que têm maior índice dos que consideram a cidade ótima (25%) para se viver e um índice relativo de 59%. Perdem para os do Norte, que tem o maior índice absoluto, com 68%, mas com 18% de ótimo e índice relativo de 62%. O pior são os moradores do Oeste, com 55% de ótimo e bom, e índice relativo de 42%.
Os que têm "automóvel para uso particular no domicílio" (66%) acham a cidade melhor para viver do que os que não têm - 63% (ainda que empatados dentro da margem de erro).
A pergunta que complementa a primeira "e pensando na sua qualidade de vida de uma forma geral, numa escala de 1 a 10, em que 1 significa "péssima" e 10 significa "ótima", como o (a) senhor (a) classifica a sua qualidade de vida na cidade de São Paulo?" é razoavelmente consistente, porém, com alguns números surpreendentes. A média geral é de 6,5, sem grandes diferenças entre os estratos. Mas nas classes C/D a média é superior (6,7%), puxada por 23% que deram a nota máxima, ou seja, 10 contra apenas 6% das classes A/B.
A média dos que têm carro (6,7) é superior aos que não têm (6,4), mas 13% acham a sua qualidade de vida na cidade ótima, subindo para 14% entre os que não utilizam automóveis.
Mas, entre os maiores problemas que o município está enfrentando, a Saúde vem em primeiro lugar (23%) e o trânsito em segundo (15%), ao qual podem se somar 7% do transporte coletivo, para caracterizar a mobilidade.
São muitos os itens da pesquisa e vamos, hoje, nos ater a uma indagação específica: as prioridades que, segundo os entrevistados, o próximo prefeito deveria adotar para diminuir o problema do trânsito na cidade de São Paulo.
Considerando apenas as indicações para o primeiro lugar, "colocar mais metrô/ampliar o número de linhas" aparece com a maior pontuação (20%), seguido de "construir novos corredores de ônibus" (18%) e com 14%: "construir novas avenidas" e "colocar mais ônibus na frota". Construir estacionamentos subterrâneos só aparece com 2% nas indicações para o primeiro lugar, ou seja, em torno de 16 respondentes.
Levando em consideração as indicações para os três primeiros lugares, "construir novos corredores de ônibus" (45%) passa "construir mais metrôs/ampliar o número de linhas", que fica com 42%.
Essa percepção é bem diferenciada em função dos estratos de renda. Para as classes A/B "construir mais metrôs/ampliar o número de linhas" tem 56% de indicações entre os três primeiros lugares e 31% para o primeiro lugar, ultrapassando todos os demais.
Já entre as classes C/D os ônibus são mais importantes que o metrô e, em segundo lugar, vem "melhorar o asfalto/tapar buracos das ruas e avenidas já existentes".
Ou seja, para os mais ricos (ou menos pobres) a percepção é que a solução é o metrô. Para os mais pobres é o ônibus.
No cômputo dos três primeiros lugares, "construir estacionamentos subterrâneos" sobe para 7%, com indicação de 10% nas classes A/B e apenas 3% nas classes D/E. É interessante notar que é de apenas 6% no Centro e alcança 14% na região Oeste. Se considerado apenas o primeiro lugar, estacionamentos subterrâneos só têm 1% da região Centro.
Ou seja, os moradores do Centro não priorizam os estacionamentos subterrâneos, diversamente dos moradores da região Oeste.
A pesquisa realizada pelo Ibope para a organização Nossa São Paulo busca captar a percepção, que em alguns casos tem desdobramento, para buscar entender as razões. Em outros casos não.
Por exemplo, a prioridade para a construção de metrô é maior para os que têm automóveis (52%) e usam todos os dias ou quase todos (54%), o que não quer dizer que trocariam o carro pelo metrô. Mas que podem estar interessados em ter mais metrô para os outros, liberando a via pública para eles.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.