A mobilidade urbana é o maior problema das grandes cidades e tende a se agravar nos próximos anos. Não há nenhuma intervenção governamental que vá minorar o problema. Na prática, só tem se agravado.
Muitas pessoas têm a ilusão de que a solução está no transporte coletivo. Essa ilusão é fomentada pelas promessas dos políticos, com discursos que vão dar prioridade ao transporte coletivo. Podem até dar, mas o resultado é pífio. O transporte individual continua crescendo em detrimento do coletivo. E a razão é simples: o transporte coletivo jamais terá condições de oferecer a qualidade do transporte individual.
O principal requisito da qualidade do transporte não é a comodidade do veículo, a sua velocidade ou a sua tarifa. A principal qualidade requerida pelo usuário, pela pessoa que quer se movimentar dentro da cidade é o ponto a ponto ou porta a porta, isto é, ter um transporte que o leve de onde está para onde quer ir, diretamente, sem transbordos, sem troca de meio de transporte.
Só existe um meio que atende plenamente a essa condição: a pé. Porque sempre há um trecho inicial ou final que precisa ser feito a pé.
Tenho dito e escrito que no futuro o principal meio de transporte coletivo, nas grandes cidades, será o elevador. Poderá não ser, mas é uma maneira de "raciocinar fora da caixa", quebrar os paradigmas para entender o problema real. O problema não é mobilidade urbana: é deslocamento urbano.
E só há uma solução: a proximidade das atividades urbanas, para que os deslocamentos possam ser feitos a pé.
Para os problemas de congestionamento nas vias urbanas a solução não é o transporte coletivo. Porque esse não atende ao requisito básico do porta a porta. A sua racionalidade e viabilidade econômica requerem um sistema estruturado do tipo tronco-alimentador. Os usuários o aceitam quando não têm opção. Quando têm passam para aquele que atenda o porta a porta, ou ponto a ponto. Esse é o transporte individual. Há agora a ilusão de que a bicicleta é a solução. É uma alternativa de pequeno alcance que não concorre com a motocicleta. Mas o ativismo dos ciclodefensores cria a ilusão.
A saída está no aeroporto, ou mesmo na estrada. As grandes cidades precisam diminuir de população. Quem não quer enfrentar os congestionamentos deve sair da cidade grande. Mas não para morar fora e continuar trabalhando nela. Precisa sair para morar e trabalhar fora.
A saída está nas cidades médias, ainda sem excedentes de pessoas em relação à sua infra e superestrutura.
Esse processo de migração está em curso, apesar das resistências dos governantes e mesmo do setor empresarial privado. O mercado imobiliário continua preferindo arriscar em São Paulo a migrar para cidades do interior. Só mudarão quando a "bolha imobiliária" em São Paulo estourar. E não vai demorar muito.
A tendência das pessoas é achar que as coisas vão sempre melhorar. E que é preciso ser otimista. Otimista era Tiririca, que dizia que pior não poderia ficar. A Câmara dos Deputados ficou muito pior depois que ele foi para lá e ainda vai piorar mais. É preciso ser realista e perceber as forças que estão atuando e como estão atuando.
Os governos enfrentam um dilema ou uma séria contradição: desemprego ou congestionamento nas vias.
A mobilidade urbana em São Paulo irá ficar pior. Quem não quiser conviver com isso pode pegar o rumo do aeroporto ou da estrada. Os que ficarem vão agradecer.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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