Parking News

Desde a aprovação do novo Plano Diretor, os debates sobre o futuro do Minhocão se intensificaram. Isso porque o plano prevê "a gradual restrição ao transporte individual motorizado no elevado" e "sua completa desativação como via de tráfego, sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque".
O Minhocão como via expressa para carros está, portanto, com os dias contados; o debate então tem se concentrado no seu destino: demolir ou reformar a via, transformando-a em parque elevado? Infelizmente, esse não é o principal dilema que o Minhocão, seus usuários e a população da cidade enfrentam hoje. Virar parque não resolve o impacto que aquela estrutura monstruosa causa nas ruas que percorre - que viraram uma espécie de subsolo - nem nos prédios em volta. Enfim, não soluciona o problema urbanístico daquele lugar.
O elevado atravessa bairros residenciais e mistos da cidade, que se degradaram com sua presença; e mais: ajudou a promover o esvaziamento residencial desses bairros. Sua desativação coloca, então, antes de qualquer coisa, a necessidade de retomar a função residencial da região, lembrando que hoje moradores de menor renda vivem nessa área graças à sua desvalorização. Aliás, a notícia do parque elevado já fez subir as expectativas de preços de imóveis no entorno...
Por outro lado, o projeto de derrubada do Minhocão impõe a necessidade de um plano urbanístico que considere alternativas de circulação leste-oeste e a absorção do fluxo que hoje passa pela via, com transporte coletivo de alta capacidade. Que alternativas seriam essas? A questão não é, portanto, demolir ou fazer parque, mas sim pensar em uma intervenção na região que recupere a qualidade ambiental e urbanística, melhore a mobilidade na cidade e seja capaz de preservar a presença dos atuais moradores e de atrair novos. É verdade que São Paulo precisa de parques locais.
Urgentemente. Acabamos de ganhar um, no Butantã, o parque da Chácara do Jockey, terreno que pertencia ao Jockey Club e que a prefeitura resgatou para a cidade através da doação em pagamento de parte das enormes dívidas em impostos que o Jockey tem com o município. Pode ganhar outro, o parque Augusta, última área verde vazia em um bairro central que sofreu um boom recente de lançamentos imobiliários.
Assim como no caso da Chácara do Jockey a prefeitura não precisou desapropriar o terreno para evitar que mais uma gleba se transformasse em torres, é possível evitar esse destino no caso do parque Augusta. Como o Plano Diretor recém-aprovado classificou esse terreno como Zona Especial de Preservação Ambiental (Zepam), o potencial construtivo da área - se não utilizado no próprio terreno - pode ser transferido para outro local da cidade. Os proprietários podem aproveitar essa transferência para construir em outros imóveis próprios ou mesmo vender o potencial.
Assim, a cidade ganha, a prefeitura não tem que gastar milhões de reais para desapropriar e o proprietário, embora deixe de obter o lucro esperado com uma grande operação imobiliária no local, não perde o valor econômico do terreno. Ao contrário do Minhocão, que requer soluções urbanísticas mais complexas, temos condições de ganhar já outros parques, como o parque Augusta!
Fonte: Folha de S. Paulo, 6 de outubro de 2014

Categoria: Cidade


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