Estacionamento privado não é problema: é solução.
A atividade é percebida com muito preconceito e apontada como responsável por muitos dos problemas que afligem as grandes cidades quando, na realidade, é uma solução.
A vida urbana é caracterizada pela fragmentação territorial das atividades vitais.
Diferentemente da vida rural, em que o agricultor produz o que precisa consumir junto à sua moradia, portanto, morando, trabalhando e consumindo num mesmo pequeno território, podendo se deslocar a pé para todas as atividades, na vida urbana, as pessoas moram num local, trabalham em outro e compram as necessidades de consumo em outro. O deslocamento a distâncias maiores é uma das características básicas da cidade. Em função das distâncias, o uso de um veículo de locomoção passa a ser um elemento essencial.
Sempre que a pessoa usa um veículo precisa de um espaço para ele no local de origem, no geral, a moradia, e um espaço no seu destino, seja o local de trabalho ou de consumo. Nos antigos filmes do oeste norte-americano, há sempre a imagem dos cavalos presos a uma barra diante do bar. Nada mais eram do que os estacionamentos dos seus veículos.
A modernidade trouxe o veículo motorizado como a grande solução para os deslocamentos urbanos e também para os interurbanos e inter-rurais.
O sucessivo crescimento das frotas e do uso do carro trouxe problemas para as cidades: os congestionamentos de veículos nas vias e a poluição ambiental.
O automóvel pode ser estacionado na via pública e fechado está menos sujeito a roubos. O ladrão pode usar uma chave falsa, pode arrombar a porta, quebrar os vidros e fazer uma ligação direta para sair com o carro.
No estacionamento privado o carro está mais seguro. Está sob vigilância contínua e coberto por seguro (ao menos nos estacionamentos regulares).
As bicicletas são mais facilmente furtáveis se estacionadas na rua. Os proprietários usam correntes e cadeado, mas é uma proteção precária. A saída são os bicicletários, quando o movimento é pequeno. Com o aumento do uso, não há espaço suficiente e o estacionamento privado passa a ser a solução. Qual será então o valor a ser cobrado pelo estacionamento da bicicleta? O que ficará mais caro? O aluguel do espaço ou o seguro?
As questões principais para o entendimento da questão "estacionamento":
1. Quem tem um carro precisa de duas vagas para estacioná-lo: uma na origem e outra no destino.
2. Ninguém tem como destino primário um estacionamento.
3. As pessoas têm como destino primário um local de trabalho, de reunião ou visita, um local de compra, um local para cuidados com a saúde, um local para educação e outros. Quando vão ao destino com o seu carro precisam de um local para estacioná-lo.
4. A demanda por estacionamentos depende da localização dos destinos finais dos motoristas. Quando esses têm alterações, como a mudança de uma grande empresa que ocupa um edifício inteiro, os estacionamentos sofrem um impacto que não depende deles. Ou seja, não é o estacionamento que define o destino, mas é este que gera a demanda por estacionamento.
5. Um edifício comercial sem estacionamento tem menor atratividade, provocando uma redução do preço. O incorporador pode contar com as vagas nas vias públicas, mas o aumento subsequente da demanda pela construção de outros edifícios ou mesmo restrições da Prefeitura Municipal podem transformar o seu empreendimento em "mico".
Observação:
Este texto é o segundo de uma série de quatro artigos do consultor, publicados em quatro semanas consecutivas, que visam caracterizar os estacionamentos pagos, segundo diversos ângulos.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.