O professor de educação física Luiz Carlos Muner Júnior não estava atrás de um carro zero, mas também não queria um muito usado. Encontrou um com a quilometragem ideal, se não tivesse sido adulterada. "O painel mostrava 58 mil km rodados. Fui direto ao motor e encontrei uma etiqueta da revisão com 69 mil km há um ano e meio", contou.
O carro que o professor de educação física levou para casa marca 68 mil km. Não há sinal de fraude, mas ele também não tem certeza. O golpe é tão antigo quanto girar o velocímetro para trás. Mas, agora que os painéis são digitais, ficou ainda mais fácil e mais comum. Em cinco minutos, um carro rodado vira seminovo.
"Temos muitos casos no dia a dia na oficina de veículos que vêm para revisão e, quando analisamos com scanner ou mesmo no visual, vemos que a quilometragem não bate com a realidade", afirma o mecânico Pedro Luiz Scopino.
Para quem foi enganado, o maior problema não é perder dinheiro na negociação, e sim colocar a segurança em risco. A quilometragem é como o DNA do veículo, o principal parâmetro para a manutenção.
Um carro com 100 mil km rodados, por exemplo, precisar trocar amortecedores, pastilhas de freio e duas correias dentadas. Se o novo dono acha que ainda não chegou a hora de tomar esses cuidados, corre o risco de sofrer um acidente. É por isso que agora pode virar lei: quilometragem do carro impressa no documento.
A Câmara dos Deputados já aprovou o projeto que atualiza a quilometragem a cada licenciamento anual. Agora segue para votação no Senado. Até lá, para escapar do golpe, vale procurar um mecânico que tenha um equipamento chamado "scanner". "Ele mostra exatamente a quilometragem que está no computador de bordo. Isso não dá para alterar", aponta Scopino.
Existem outros sinais que podem indicar a quilometragem verdadeira do carro. "Uma grande dica é o estado das pedaleiras, ou seja, as borrachinhas que vão nos pedais de embreagem, freio e acelerador. Em veículos pouco rodados, não pode ter um grande desgaste. Ou seja, as borrachas não podem estar lisas, indicando que foi muito acionado. Outra dica é o estado dos pneus tanto de desgaste como com a comparação do estepe. Em veículos pouco rodados, os cinco têm de ser da mesma marca", explica o mecânico.
Quem frauda a quilometragem ou vende um carro com quilometragem adulterada comete crime contra as relações de consumo. A pena pode chegar a cinco anos de prisão.
Fonte: programa Bom Dia Brasil (TV Globo), 7 de setembro de 2011