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Por Jorge Hori*

Os empregos não são gerados pelos empregados, tampouco baseados na disponibilidade de mão-de-obra barata. Talvez ocorra na China. Se ocorrer no Brasil não será nas grandes cidades e mais ainda em São Paulo.
Esse fator poderá influir nas decisões macro-regionais, mas não na escala micro. O macro-regional hoje é de âmbito global, envolvendo opções de escolha dos locais dentro do mundo e não apenas dentro de um país. Pode ocorrer com desdobramentos sucessivos, ou seja, uma escolha por executivos de uma multinacional do país onde pretendem instalar uma unidade, seguida da escolha da região ou estado e depois de uma cidade para chegar ao local, dentro da cidade. Algumas vezes a opção é direta entre cidades mundiais.
O perfil dos empregos urbanos aponta para uma total predominância das empresas no setor terciário, tanto no mundo, como em cada cidade. Dentro desse se destacam dois subsetores: o comércio varejista e o de gestão, que, nas estatísticas aparecem como serviços e, em alguns casos, mais especificamente como serviços prestados às empresas, que se instalam em escritórios.
Os empregos no comércio varejista se localizam nas lojas, sejam as de rua ou nos grandes centros comerciais, que são os ?shopping centers?. A maior parte dos empregos continua sendo nas pequenas ?lojas de rua?, mas a tendência é de participação cada vez maior dos empregos nos centros comerciais, que têm uma localização concentrada, em detrimento das lojas de rua que têm uma localização mais dispersa, embora tendam a se concentrar em determinados polos.
Os comerciantes de rua buscam localizar as suas lojas onde existe tráfego de pessoas, mas requerem também estacionamento em vias públicas, próximas. Enquanto as lojas de shopping center estão voltadas a um consumidor de média e alta renda, o comércio de rua atende a todos os segmentos. Até mesmo os de alta renda, em ruas de comércio especializado, como de lustres, na Rua da Consolação, ou das noivas, na Rua São Caetano. Algumas delas se deslocaram para a Avenida Rebouças.
O comércio popular que atende à população de menor renda, também um importante gerador de empregos, tende a se instalar nos pontos de concentração de origem, como de destino. Esse último tem apresentado dinamismo maior do que os de origem. Isso porque os trabalhadores que saem da periferia para trabalhar na área central preferem fazer compras nessa área em vez do comércio local de suas moradias.
Os empregos nos serviços de gestão empresarial são instalados em escritórios, dependendo da decisão dos empregadores em localizar o seu escritório. Os dados estatísticos são representativos de uma realidade e não fator de decisão, como alguns pretendem, manipulando tabelas, passando um valor de uma célula para outra.
Os principais polos de emprego, dentro das cidades, decorrem, pois, das decisões empresariais em instalar os escritórios e os centros comerciais ou ainda centros de serviços de educação e saúde, que também são significativos empregadores.
O desenvolvimento de novos polos corporativos, reunindo escritórios, shopping centers e outros serviços nas grandes cidades brasileiras indica que a disponibilidade de transporte coletivo ou disponibilidade próxima de mão de obra têm pequeno peso nas decisões empresariais.
Aparentemente, os principais fatores são a acessibilidade por automóvel, ou seja, infraestrutura viária e a aposta na concentração: ?É uma área que vai pegar? e decorre de profecias auto-realizadas quando conseguem a adesão de importantes decisores. Os polos corporativos não só geram empregos de alto nível, para dirigentes, gerentes, funcionários especializados, como também de médio nível, como os funcionários administrativos, nas diversas funções, e para trabalhadores de menor nível, com remuneração próxima ao salário mínimo, como o pessoal da limpeza, serviços de copa e segurança patrimonial.
Esses, por limitação de renda, só têm a opção do transporte coletivo da periferia, onde têm condições de morar, para os centros de emprego. Só em casos excepcionais possuem condição de morar próximo, quando estavam instalados em favelas ou cortiços anteriores ao desenvolvimento imobiliário e conseguiram se manter no local, sem serem desalojados.
São funcionários de serviços complementares, em geral terceirizados, e que pouco influem na decisão do empregador em relação ao local de instalação do seu escritório. Na prática, o empregador espera que esses trabalhadores ?se virem? para chegar ao local de trabalho nos seus horários e, se não o cumprirem, são substituídos. Uma exceção sempre citada pelas autoridades públicas são os ?contact center?, popularmente conhecidos por uma de suas atividades: o ?calcenter?. São estabelecimentos que reúnem um grande número de trabalhadores de média qualificação e também de média remuneração, sendo que grande parte mora em regiões periféricas. Para induzir ou estimular as empresas a se instalarem em áreas periféricas, onde haveria abundância de mão-de-obra do nível buscado, o Poder Público oferece benefícios fiscais que têm sido ineficazes.
Isso ocorre porque os que influem na decisão de localização por terem que trabalhar nos locais, como os dirigentes e os gerentes, resistem em ir trabalhar nesses locais, muito distantes da sua residência. Aqueles que progrediram na carreira profissional e participam do processo decisório, querem morar bem e não vêem condições de morar bem, nessas regiões periféricas e pobres. Não encontram locais adequados para morar e mesmo que os encontrem não são suficientes. Requerem serviços urbanos de qualidade como escolas, unidades de saúde, lazer e outros. Podem encontrar serviços de gastronomia, junto a grandes centros de compras, porém, sem grandes variedades.
Os ?contact centers? são ? em geral ? unidades de grandes grupos, algumas delas multinacionais. Benefícios fiscais favorecem os acionistas, os investidores, alguns dos quais podem estar no exterior e dificilmente irão aos estabelecimentos periféricos. Os decisores da localização só teriam participação indireta nos benefícios e, por isso, pouco consideram os benefícios fiscais, dando maior importância a outros fatores.
As escolhas de localização dos escritórios não seguem um processo difuso, mas altamente concentrado, em que pouco determinam o desenvolvimento local e acabam sendo seguidos por vários.
Cabe ressaltar a importância de empreendimentos germinadores que atraem outros empreendimentos no seu entorno. Alguns shopping centers têm tido esse papel, como o caso do Shopping Iguatemi, em Salvador, Porto Alegre e mesmo em São Paulo, ocupando pioneiramente uma área de ocupação rarefeita que em alguns anos se transformou em polo corporativo.
Uma atividade econômica geradora de empregos é a educacional, seja de professores, como de funcionários administrativos, principalmente as unidades de ensino superior privado. O que leva o empresário educacional a instalar uma unidade num local e não em outro? Embora haja uma tendência de localizar essas unidades próximo às estações de metrô, ainda requerem grandes volumes de vagas, seja para os professores, como para os alunos.
Uma política pública tem que considerar esse fenômeno de comportamento empresarial para obter sucesso nos seus objetivos. Não há geração de empregos por parte dos empregadores sem a disponibilidade de estacionamentos para os gerentes, funcionários graduados e clientes.
Dentro da perspectiva de comportamento empresarial, o estabelecimento do máximo de vagas levará a um resultado oposto ao desejado: não favorece o adensamento, sem carros, propugnado pelo Poder Público, tampouco aproxima a moradia do trabalho e vice-versa.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.

Categoria: Fique por Dentro


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