Apesar de Brasília não ser, hoje, um modelo de coisas boas acontecendo, a cidade teve a comemorar um feito que chega agora à maioridade e que deve nos inspirar: a faixa de pedestres na Capital Federal completou, neste 1º de abril, 18 anos de sua implantação, e é sinônimo de orgulho para os cidadãos daquela terra, incorporada que está, totalmente, à rotina dos brasilienses.
Estes, respeitadores da iniciativa que começou lá em 1997, se igualam aos nativos dos países mais avançados quando se trata de dar ao pedestre a preferência de travessia na faixa que lhe pertence.
A observância ao direito do pedestre, para se firmar nesses 18 anos, exigiu investimento em campanhas e pulso firme na hora de orientar e punir o motorista infrator. A primeira providência do Batalhão de Policiamento de Trânsito em Brasília foi rever a pintura de faixas na cidade, quanto à localização, para corrigir o que dificultava a travessia com segurança.
Depois, durante três meses, a campanha colocou policiais do BTran em pontos mais movimentados, todos os dias, parando o motorista e dando vez ao pedestre. Ao final dos três meses e cumpridas todas as etapas da campanha, inclusive a de orientação ao motorista que avançasse sobre a faixa, começou-se então a multar.
O resultado foi comemorado, na semana passada, no DF, com homenagens dos policiais que, posicionados sobre as faixas e utilizando técnicas de teatro, ensinavam escolares sobre leis de trânsito, reforçando a lição aprendida. Em Santos, quatro anos depois da implantação da Faixa Viva pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), completados em março, não há o que comemorar, pois o motorista salvo exceções continua ignorando que a faixa pertence ao pedestre por todo o tempo em que se cumpre a travessia.
Por sua vez, talvez por saber que não será respeitado ao pedir passagem, o pedestre também não aprendeu a estender o braço e, com este gesto, avisar que precisa atravessar. Para o presidente da CET, Antonio Carlos Silva Gonçalves, em entrevista a este jornal, em setembro de 2014, os reflexos da Faixa Viva só serão sentidos em 2019, um tempo exagerado e inexplicável para aprendizado tão simples e tão cidadão.
É louvável que a CET tenha começado, em parceria com o Rotary Club, uma campanha que consiste em colocar nos carros adesivos com a frase Faixa Viva, eu respeito, para conscientizar a população sobre a importância de respeitar a travessia de pedestres. Válida, sim, mas tímida diante de um motorista às vezes até agressivo e de um pedestre envergonhado de fazer valer seu direito.
O que a experiência vitoriosa de Brasília nos ensina é que educação no trânsito exige ações planejadas, firmes, rigorosas, constantes e punitivas.
No caso, bastando apenas obedecer ao que está na lei: sete pontos no prontuário do condutor e R$ 191,54 amenos no bolso.
Esperar resultados somente para 2019 é desconsiderar que lições de cidadania são todas para ontem.
Fonte: A Tribuna (Santos), 6 de abril de 2015