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Para o presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo, Roberto Scaringella, o paulistano terá de aprender a conviver com um número maior de quilômetros de lentidão e os congestionamentos do período da manhã poderão ficar bem próximos dos da hora de pico da tarde. No entanto, Scaringella disse que não haverá nenhum "colapso" na cidade, porque a explosão da frota de veículos e da verticalização têm limites. Ele sugere tentar medidas de ajuste, como alterar o estacionamento nas ruas, por exemplo. Essas e outras opiniões foram dadas em entrevista que concedeu ao jornal Folha de S. Paulo após a capital conviver com seguidos recordes de engarrafamento. Leia a seguir alguns trechos:

Folha - Por que houve seguidos recordes de congestionamento em São Paulo nos últimos dias?
Roberto Scaringella - Mudamos a base de monitoramento. Antes eram 560 km e hoje são 820 km. Significam 5% do sistema viário da cidade. E, desses 5%, temos congestionamento de 15% a 20%. O que aconteceu além da mudança da base? O Brasil nunca produziu tanto veículo. E o trânsito também é resultado da verticalização da cidade, que inunda de carro as ruas. Vivemos um boom imobiliário. O trânsito é conseqüência da atividade econômica. Se aquece, tem mais viagens de comércio, mais entregas urbanas.

Folha - E a parte que cabe à CET?
Scaringella - Evidentemente que também depende da ação do órgão de trânsito. O chip [de identificação dos veículos, previsto para 2009] será um grande divisor de águas.

Folha - O boom imobiliário continua, assim como a expansão da frota. O trânsito vai piorar?
Scaringella - Não há engenharia de tráfego que coloque dois carros numa vaga. O órgão de trânsito não determina a produção de veículos nem a política de aquecimento econômico.

Folha - O que fazer, então?
Scaringella - Precisamos testar medidas de ajuste. Por exemplo, de estacionamento.

Folha - O que são essas políticas?
Scaringella - Pega uma rua qualquer. A Alameda Santos, por exemplo. Se proibir estacionamento dos dois lados, ela tem uma determinada capacidade. Se você permitir estacionamento dos dois lados, a capacidade cai pela metade. Por outro lado, é preciso agir de forma harmônica. Poderia ter uma política muito mais restritiva de estacionamento. Para a fluidez é muito bom. Mas pode ter reflexo econômico ao comércio, prestador do serviço.

Folha - Qual é a tendência futura?
Scaringella - A minha visão não é pessimista. A verticalização da cidade tem limite. A motorização também. Mas a conseqüência é que a gente terá de aprender a conviver com um número maior de quilômetros de lentidão. Quando eles se excedem, não geram um colapso da cidade, mas a deterioração e a delinquência urbana. O que pode acontecer é a hora de pico da manhã se aproximar da hora de pico da tarde.

Folha - E os remédios para conter essa tendência?
Scaringella - Os melhores e maiores remédios para aliviar os congestionamentos estão fora do trânsito. Estão na lei de uso e ocupação de solo, na fabricação de veículos, no aumento de transporte coletivo. E um dos remédios está no comportamento das pessoas. Fazer uma viagem com um cara só é uma forma irracional.

Folha - E os remédios que especialistas, incluindo o sr., já defenderam, como o pedágio urbano?
Scaringella - Os remédios precisam ser assimilados pela população. A gente poderia usar medidas radicais que dariam fluidez, mas podem impactar negativamente a economia.

Folha - O debate será feito agora?
Scaringella - Não há discussão, não está na programação nem a mudança do rodízio nem qualquer atitude mais radical.
Fonte: Folha de S. Paulo, 9 de março de 2008

Categoria: Fique por Dentro


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