Parking News

Era uma época em que a marca Galaxie, em vez de lembrar o nome de um celular, fazia suspirar apaixonados por carros e encantava os ?brotos? que viam o sedã da Ford desfilar imponente pelas ruas de Curitiba. A capital paranaense rumava para atingir a marca de 600 mil habitantes, quase o dobro dos 361 mil registrados no início da década. Biarticulados e canaletas eram ainda ideias distantes, assim como as avenidas congestionadas.
Mesmo assim, houve quem cogitou erguer um prédio só para os poucos automóveis que vagavam aqui e ali. A ideia vingou e, em 10 de março de 1967, era inaugurada a Garagem Automática Requião, a primeira do Paraná a contar com um intrincado sistema de elevadores para carros. Mais curioso que o fato do empreendimento ter vingado foi o destino do espaço: quase 50 anos depois, a então moderna garagem permanece em funcionamento, intocada e um tanto escondida.
O prédio de 21 andares, exclusivo para veículos, está instalado na Alameda Dr. Muricy. De fora, tem o aspecto de um edifício residencial. Dentro, é de uso exclusivo dos automóveis, que se revezam nas 258 vagas disponíveis. Dois elevadores levam os veículos até os andares correspondentes. Prático, mas nem tanto ? os manobristas ainda precisam dirigir os carros para dentro das vagas e operar manualmente a plataforma.
Se hoje o prédio pode parecer antiquado, na época da construção foi tratado como atração turística. A empreitada foi levada a cabo pela família Requião ? que possuía uma rede de papelarias com sede na alameda e era dona do terreno ? e pela construtora Irmãos Thá. Muitos rumavam para o Centro da capital só para ver como funcionava aquela ?caixa de carros?. ?Eu era criança na época e lembro que o prédio chamava a atenção de todo mundo. Tinha muita gente que ficava parada na frente só para ver os carros entrando e subindo no elevador?, recorda o tabelião Oséas Ribas Ferreira Júnior, que herdou do pai quatro garagens, que usa até hoje.
O uso das vagas por diferentes gerações é comum e explica parte da vitalidade do estacionamento. Na prática, a garagem automática funciona como um prédio habitado por seres de carne e osso. Há condomínio para pagar, síndica para botar a casa em ordem, IPTU, escritura e tudo o mais de direito. Os proprietários podem alugar a vaga para mensalistas, usar por conta própria ou, como é praxe no mercado imobiliário, adquirir para esperar valorizar e depois revender.
Numa cidade atopetada de carros e sedenta por espaços para estacionar, o negócio tem se mostrado rentável ? hoje, as vagas na garagem Requião chegam a valer entre R$ 12 mil e R$ 15 mil.
Apesar de moderno, sistema não vingou nas décadas seguintes
Embora prédios residenciais e comerciais dediquem cada vez mais espaço aos estacionamentos ? a construtora Laguna ergueu recentemente no Bairro Água Verde um edifício com seis andares só para veículos, sendo cinco no subsolo ? o sistema de garagem automática não vingou ao longo do tempo. Há apenas um outro empreendimento similar, na Avenida Marechal Deodoro, lançado em 1974 e ainda em funcionamento.
Hoje a legislação municipal não permite a construção de vários andares de estacionamento acima do solo ? restrição que é alvo de críticas de construtoras e entidades do setor e deve ser discutida na revisão do Plano Diretor. ?Os edifícios-garagens foram cogitados nos anos 1960 mas não vingaram até porque não havia necessidade. Mas nos últimos cinco anos Curitiba mudou exponencialmente e, hoje, encontrar uma vaga para estacionar é muito difícil. Esperamos que com as novas discussões (do Plano Diretor) possamos transformar essa opção em algo factível?, defende o engenheiro civil e vice-presidente da Área Técnica do Sinduscon-PR, Euclésio Finatti.
O gerente da Garagem Automática Requião, Domingos Pazdziora, tem sua própria tese a respeito. ?As construtoras não pensaram muito no futuro. Parece que ninguém imaginou que ia aumentar tanto a quantidade de carros na cidade?, diz. Domingos é testemunha dessa evolução ? ou retrocesso, na opinião dos críticos dos automóveis. Ele trabalha como gerente da garagem há 44 anos. Aposentou-se há 17, mas continua no batente. No alto de seus 73 anos, não encontra dificuldade para tocar o negócio. Até porque pouco mudou nas últimas décadas, incluindo os cartões de papel amarelados que substituem qualquer software que poderia ser usado para controlar as vagas.
Fonte: Gazeta do Povo (Curitiba), 16 de março de 2014

Categoria: Geral


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