O futuro do maior entreposto de alimentos da América Latina voltou a ser motivo de embate entre a Prefeitura de São Paulo e a União, após mais de uma década de negociações para a transferência da Ceagesp da Vila Leopoldina, na zona oeste. Um projeto encampado pela gestão Fernando Haddad para levar a sede do entreposto para a região de Perus (zona norte), em uma área perto do Rodoanel, já enfrenta a oposição da nova direção da companhia, nomeada pela gestão do presidente interino, Michel Temer.
Com apoio do prefeito, um grupo de produtores e comerciantes de alimentos já articula inclusive a migração para um novo entreposto construído e gerido pela própria iniciativa privada, e não pelo poder público, como é hoje. Administrada pela União, a Ceagesp fica numa área 700 mil m² e, diante do tráfego de veículos pesados, se tornou um ponto de degradação em meio a uma região residencial recentemente valorizada por empreendimentos residenciais de alto padrão. Haddad divulgou dia13 aproposta alternativa à atual Ceagesp, sob a alegação tanto de revitalizar a área como para diminuir a circulação de caminhões nas marginais Tietê e Pinheiros. Passam pelo entreposto diariamente 12 mil veículos, além de 50 mil pessoas. A negociação para a transferência, aventada já em governos anteriores, vinha sendo feita com a União antes do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência.
O novo presidente da Ceagesp, Antonio Carlos do Amaral Filho, indicação do PP (Partido Progressista) no governo Temer, já afirma que a ideia "não interessa". Para ele, Haddad, que está no último ano de mandato, apoia uma proposta que dependeria ainda de sua reeleição para ser concretizada. O grupo de produtores e comerciantes de alimentos defensor da mudança da Ceagesp criou a Nesp (Novo Entreposto de São Paulo), para que haja uma gestão privada do futuro empreendimento.
O terreno para abrigá-los, onde há plantação de eucaliptos, já foi adquirido. O empresário Sérgio Benassi, defensor da ideia, diz que os custos do condomínio na Ceagesp são altos e que a gestão não é eficiente. "Se isso fosse verdade eu não teria uma fila de pessoas querendo entrar aqui", afirma Amaral Filho, novo presidente. O presidente da estatal diz não ver problemas na criação de um concorrente privado. "Agora, se estão pensando que eu vou fechar uma empresa com faturamento de R$ 2,5 bilhões por ano e transferir para a iniciativa privada, me parece loucura", afirma. Haddad diz que falou sobre esse tema com Blairo Maggi, ministro da Agricultura.
O petista afirma que, se houver a transferência da Ceagesp num prazo de até cinco anos e para uma área dentro da capital paulista, a prefeitura abriria mão, em favor da União, de recursos que são pagos por empreendimentos privados na Vila Leopoldina para construir acima do limite previsto no zoneamento. O terreno federal teve valorização após mudança na legislação, quando a área deixou de ser industrial. Para Haddad, a área na Vila Leopoldina poderia servir para a criação de polos gastronômicos e tecnológicos.
A transferência do entreposto já foi cogitada outras vezes – em 2001, por exemplo, pelo governo estadual. O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, Gilberto Belleza, diz que retirar um polo de concentração de tráfego do centro expandido pode ser uma medida benéfica. "Dá força para o Rodoanel, esse é o papel dessa estrutura viária." Porém, alerta que o novo local precisaria estar capacitado para absorver esse fluxo.
Fonte: Folha de S. Paulo - 14/07/2016