Estacionamento nunca é o destino final de uma viagem urbana. Quando alguém sai de carro para ir ao trabalho, à escola, à clínica, às compras ou outra atividade urbana qualquer, procura estacionar o seu carro o mais próximo do local onde quer exercer essa atividade.
Em locais de pouca demanda pode até encontrar uma vaga em via pública, sem restrições de horários. Em algumas áreas pode encontrá-la, mas por um tempo máximo de duas horas, pagando pela mesma. Em São Paulo, o sistema é a Zona Azul.
Quando não encontram vaga na rua, a alternativa dos motoristas é buscar um estacionamento privado e terão de pagar caro, gerando indignação desses usuários. A maioria fica altamente indignada, reclama, mas paga e volta no dia seguinte, reclamando mais ainda, e volta no terceiro dia, aumentando a reclamação. Ou seja, reclama, mas não deixa o carro em casa, e continua usando o estacionamento, pagando e reclamando.
Por que isso ocorre? Primeiramente porque a Prefeitura Municipal, dentro de uma política anticarro, vem eliminando progressivamente e há muitos anos, as vagas públicas. Essa redução é maior na administração atual. O objetivo é reduzir o uso do carro, tornando mais caro o seu uso. No entanto, é um objetivo de longo prazo que requer uma profunda mudança cultural. E só será alcançado se para os locais de maior concentração de destino houver disponibilidade de transporte coletivo de alta qualidade. Alta qualidade não é medida pela condição do veículo, mas por sua rota e lotação. Carro cheio é sinônimo de má qualidade. E não adianta dizer que em outros países os metrôs também andam lotados na hora de pico e as pessoas o utilizam e deixam o carro em casa. Não é bem assim.
As pessoas que têm a opção do carro, mas utilizam o transporte coletivo, podem fazê-lo fora da hora de pico.
Sem um transporte de qualidade e redução das vagas, as pessoas só têm duas opções: ir de carro e pagar o valor dos estacionamentos ou mudar de local de destino. Nem todos podem fazer isso.
Mantida a demanda, os preços sobem pela lei de mercado. Os preços ficam muito próximos também por funcionamento do mercado. O que cobrar demais tende a perder clientela. O que cobrar menos enche logo e perde oportunidade de cobrar mais.
A questão é que o movimento dos estacionamentos é altamente variável durante o mesmo dia, durante os dias de semana e mesmo durante o ano. Há momentos em que há uma grande demanda e outros em que os estacionamentos ficam vazios.
Estacionamento privado é uma atividade econômica privada regulada pelas leis de mercado. Mas sempre há os que entendem que deve ser regulado pelo Estado e pretendem controlar os preços. Isso só desorganiza a atividade e promove a atividade informal.
À Prefeitura Municipal, que teria o principal poder, não interessa regular, tampouco forçar a redução dos preços. A sua política pública, para desestimular o uso dos carros, é promover preços mais altos, não mais baixos.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.