Manhã de domingo em Ipanema: duas guardadoras de carros trabalham com uniformes diferentes, uma ao lado da outra, no entorno da Praça Nossa Senhora da Paz. Eram o retrato da bagunça instaurada nas 39 mil vagas públicas de estacionamento da cidade, fruto da demora da prefeitura para reorganizar o Rio Rotativo.
Sem definições sobre o sistema, motoristas viraram reféns de uma verdadeira barafunda. Não conseguem distinguir se são abordados por flanelinhas ou pessoas autorizadas a realizar o serviço. Em muitos pontos, não recebem sequer o tíquete de pagamento, e, às vezes, deparam-se com cobranças acima do permitido.
“A gente fica ao deus-dará, principalmente na Zona Sul e nos pontos turísticos da cidade, onde a situação é pior”, reclamou o administrador de empresas Tiago Borges.
Morador da Tijuca, ele parou o carro numa das vagas da Nossa da Paz, onde participaria como expositor de uma feira de artesanato. Pagou R$ 10 pelo estacionamento, e foi um dos que se viram confusos com a falta de padronização nos uniformes dos guardadores do local:
“Uns têm colete azul; outros, amarelo. Qual é o certo?”
Atraso de meses
Em 20 de outubro do ano passado, o prefeito Marcelo Crivella baixou um decreto criando um grupo de trabalho para elaborar, com prazo inicial de dois meses, um projeto de concessão do serviço do Rio Rotativo. A medida até hoje não saiu do papel. Segundo a Secretaria municipal de Transportes, “devido à complexidade do assunto e da tecnologia de controle a ser utilizada, o trabalho ainda não foi concluído, mas o processo está em andamento”.
Enquanto nada é decidido, guardadores com uniformes diferentes também trabalham a poucos metros de distância entre si na Avenida Vieira Souto, em Ipanema. Já na Rua do Russel, na Glória, flanelinhas tomaram conta das vagas, que deveriam custar R$ 2 por um período de duas horas.
“Eles pedem R$ 5, R$ 10 e até R$ 15. Se a gente fala que não vai pagar, é bem capaz de encontrarmos o carro arranhado ou faltando alguma coisa na volta”, dizia, no local, a motorista Bárbara Lourandes Lopes, moradora da Vila da Penha.
Ainda na Rua do Russel, perto do antigo Hotel Glória, um guardador admitia não ser regularizado na prefeitura.
Nos últimos meses, a única mudança no Rio Rotativo feita pela atual administração municipal ocorreu em janeiro. Na época, por meio de licitação, a prefeitura escolheu a Tecnopark para explorar 893 vagas às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. No contrato, ficou acertado que a empresa teria liberdade para fixar os valores das tarifas conforme o dia da semana, o horário e a área da vaga. Com isso, a hora pode custar entre R$ 3 e R$ 10.
Fonte: O Globo - 09/07/2018